quarta-feira, 25 de abril de 2007

Capítulo 5

Running to Stand Still

A tentativa de reanimação não tinha resultado. Desapontado e um ainda mais aflito, o homem tentou encontrar algum contacto de alguém na bolsa que Joana trazia consigo. Desesperado despeja o conteúdo da mala para o chão e procura no meio dos papéis alguma solução. Mas nada parecia bater certo ali. Todo aquele cenário para ele era estranho e inútil para a sua angústia em deixar partir aquela rapariga, que permanecia ali tão serena e divina repousando no seu sono proibido. Calmamente, demasiado até, senta-se ao seu lado. Pega na sua mão e beija-a.
- Onde estás tu? – pergunta baixinho ao seu ouvido.
Acaricia a sua pele mais uma vez. Tão macia.
- Quem és tu, meu anjo? – questiona ele de novo tentando perceber quem era a rapariga que lhe tinha surgido do nada naquele dia tão solitário.
Ela parecia iradiar luz. Fez lembrar-lhe uma deusa pronta a ser adorada. Talvez fosse mesmo isso que estava a ser para ele naquele momento. Uma lágrima escorreu-lhe pela face. Outra. Sem saber porquê nem como estava a chorar. Por ela.
De súbito, lembra-se do estado da menina e volta a verificar a pulsação. Não tinha melhorado nada. Não não sabia o que fazer mais. A sua vontade era ficar ali a olhar para ela, tão sublime, mas sabia que isso não iria resolver nada.
Apressou-se. Abriu o velho guarda-fatos e tirou uma manta grossa. Com esperanças que isso fosse reanimar Joana passou o cobertor por cima dela e aconchegou-a. Depois disso chegou perto dela e beijou-lhe na testa.
- Aguenta-te aí. Eu venho já, minha querida.

***

Carla segurava trémula no telemóvel enquanto aguardava a resposta. Sofia, do lado dela, esperava também numa pilha de nervos.
- Então? – pergunta ela puxando o braço da mãe.
- Espera. Eles disseram para aguardar.
Carla volta a ouvir a voz do outro lado da linha:
- Está?
- Diga-me se a minha filha deu entrada no hospital, por favor.
- Pela descrição e o nome que me deu, não deu entrada de ninguém neste hospital.Tente saber noutros.
- Está bem, obrigada. Fique com o meu contacto, caso seja preciso. Boa tarde.
Sofia puxa Carla até um banco ali perto e sentam-se as duas.
- Tenta outros. – pede Sofia.
Carla pega novamente no telemóvel e marca outro número. Espera.
- Hospital São João. Boa tarde, o que deseja dos nossos serviços?
- Boa tarde. Seria possível saber se deu entrada de alguém no hospital esta manhã?
- Claro. Percisamos dos dados pessoais dessa pessoa.
- É a minha filha. Ela está desaparecida desde hoje de manhã. Tem 16 anos e o nome dela é Joana Novais.
- Aguarde só um pouco...
Carla esperou uns instantes segundos até que a voz regressa.
- O nome não consta na nossa lista, mas também acho um bocado cedo para a senhora procurar a sua filha nos hospitais. Se ela só desapareceu hoje então aconselhava esperar mais um pouco.
- Esperar? Como é que eu posso apenas esperar? Se ela não regressou a casa por algum motivo foi, não acha?! – disse Carla descontrolada. Sofia pega na sua mão.

***

O homem sentiu uma lufada de ar quente mal passou a porta para o exterior. Não tinha notado que dentro de casa estava muito mais fresco do que aquele dia fora das quatro paredes. Mas também não fez caso. Estava agora muito mais alerta a uma cabine telefónica ou estabelecimento que lhe pudesse atender num momento de imergência e aflição.
Correu. Correu o mais que o seu corpo lhe conseguisse dar. Ironicamente, agradeceu pelo bom físico que tivera na sua juventude. Nunca antes pensou que toda a sua vida empolgante e fora do normal que tivera no passado lhe poderia dar tanto jeito num momento como aqueles.
Não se preocupou com mais nada a não ser em Joana. Como não conhecia grandes sítios daquela zona então limitou-se a guiar-se por intuição. E não era nada mau nisso, diga-se de passagem.
O fôlego começou a falhar-lhe e as pernas já só corriam submetendo-se apenas ao pensamento. O calor tornou-se uma forte barreira para seus passos determinados. Gotas grossas de suor começavam a escorrer-lhe pela cara e pescoço e sentiu a t-shirt ligeiramente molhada. Assim continuou firme. Avançou por entre as casas, ruas e quarteirões desertos que pareciam infinitos.
Completamente estafado chega a um largo onde encontra à sua esposição uma dúzia de pequenos cafés e tascas, típicos da zona baixa do Porto. Veio a calhar. Depois daquela descarga de energia louca, quase nem conseguia manter-se em pé. Agarrou-se à parede mais próxima e foi quase como às apalpadelas até conseguir entrar no primeiro estabelecimento que viu mais próximo.
A pequena taberna naquele momento alujava apenas meia dúzia de pessoas, ou nem tantas cabiam naquele espaço apertado. Áquela hora era mais propício a presença de alguns mendigos que arranjavam uns trocos e conseguiam comprar umas míseras refeições à hora do almoço. Fora esses, poucos sentavam-se nas mesas redondas a jogar cartas ou a beber cervejas solitários.
A zona do outro lado do balcão estava deserta. Ao fundo da tasca, uma mulher de cabelos ruivos, sentada numa cadeira assistia a um jogo de futebol pela televisão quando repara no velho a entrar de rompante por lá dentro. Surpresa, ela arrasta-se nos chinelos de quarto e vai ao encontro do homem exausto e ofegante.
- Credo! O senhor está bem?! Precisa de alguma coisa?? – pergunta ela ajudando-o a sentar-se.
O velho nada respondeu. Precisava de instantes momentos para se recompor e explicar a situação. A mulher olhava para ele sem expressão por detrás da camada excessiva de maquilhagem na cara.
- Quer um copo de água ou assim?! – pergunda ela. – Ó António!!! Chega um copo d’água p’ra este senhor! - gritou.
- O que foi, mulher??! – pergunta um homem pondo a cabeça para fora da porta de acesso reservado aos funcionários.
- Vai buscar um copo d’água! Este senhor não se está a sentir bem!! Anda rápido pá!
O sujeito desaparece ainda mais rápido por onde apareceu. Num instante regressa com um copo nas mãos, caminhando o mais que consegue sem fazer trasbordar a água.
- Dá cá! – pede a mulher dando a água ao velho.


***

- O que fazemos? – pergunta Sofia desapontada.
- Não faço a mínima ideia. Como é possível eu sentir-me tão inútil nesta situação? – pergunta Carla limpando o suor da cara.
- Junta-te ao clube! – resmunga Sofia pontapeando as pedras que se atravessava no seu caminho - Acho que o que temos melhor a fazer é irmos para casa e esperarmos por notícias ou que ela chegue, com certeza que há uma explicação.
- Sim, vamos. – disse Carla pouco convencida.

***

- Ele não disse o que tinha? – pergunta o senhor da taberna à mulher.
- Não! Entrou-me por aqui a dentro neste estado... – responde ela como se a presença do velho não fosse significativa.
- Eu vim pedir auxilio – diz por fim ele.
Toda a atenção vira-se para o homem que já respirava calmamente.
- Vim a correr de minha casa até aqui porque preciso urgentemente de uma ambulância! – exclama ele levantando os seus olhos inchados para o casal à sua frente.
- É p’ra si?! – pergunta a mulher dando uma cotovelada ao marido. – Vai buscar o telefone!
O homem volta a desaparecer num ápice pela porta dos fundos.
- Não, não é para mim! – responde. - É para uma rapariga que está neste momento incosciente. Ela desmaiou do nada à cerca de meia hora atrás, e não sei o que se passou com ela. Julgo eu que é grave...
Sem ninguém reparar, duas lágrimas rolam pela sua cara abaixo. – Ajudem-na, por favor!
- Porque é que não chamou logo o INEM?
- Porque não tenho telefone em casa.
A mulher olhou-o estranhamente de cima a baixo. Nunca o tinha visto antes por aquelas bandas. Soava-lhe estranho a maneira como ele falava.
O homem da tasca rapidamente regressou com um telemóvel nas mãos e deu-o para a mulher. Ela marca o 112 e espera.
- Diga-me só a sua morada. – pede a Mulher.
O coração do homem parou.
- A minha morada?! – pergunta ele trémulo.
- Sim, o endereço!
- Bem, eu sei indicar-lhe o sítio mas...
- Estou?! Precisamos d’uma ambulancia para socorrer uma pessoa que está inconsciente! – diz ela pelo telefone.
A morada? Morada... o velho não fazia ideia do nome da rua nem do número da porta. Raios! Nada! Assim como ia ajudar a localizarem a casa?! Como foi capaz de esquecer-se de um pormenor tão importante?! Algo de muito estranho se passava ali...
– Diga-me a sua morada! – insiste a mulher mais uma vez.

***

Joana, muito longe de se poder integrar na situação tão caótica que se vivia por sua causa, deixava-se levar por um sono profundo. Não apenas um mero sono profundo de um recém-nascido. Também não estava literalmente morta. Talvez perto disso. Mas podemos dizer que, apesar do seu estado insconsciente vivia momentos nunca antes imaginados e talvez nunca mais recordados. Sentia-se livre espiritualmente, o que era um senimento deveras agradável. Divino. Viciante. Tinha a mente completamente vazia. Como se tivessem passado uma toalha branca sobre ela. Nenhuma parte do corpo se parecia encaixar na outra. Estava imóvel mas não propriamente parada.


24 de Setembro de 1977

Joana sentia o corpo durido. Tinha o braço dormente. Provavelmente estava deitada sobre ele. Sentiu um arrepio pela a espinha abaixo e estremeceu. Ouviu passos junto ao ouvido. Sussurros aproximando-se.
Luz. Raios de luz intensos invadiram sem piedade a sua vista quando tentou abrir os olhos. Reclamou de dores nas costas e ouviu vozes de pessoas, desconhecendo completamente onde estava. Também não sabia de todo o que fazia ali nem como. E o estado em que se encontrava também ainda lhe parecia estranho.
As vozes pareciam não querer deixa-la em paz. Abriu-se ali uma grande confusão à sua volta. Estava irritada consigo mesma e com quem não a deixava dormir.
Abriu os olhos, ainda dificilmente. Estava na rua. Mais concretamente no meio do passeio deitada sobre um degrau junto a uma porta. Tentou apoiar-se só num braço enquanto afastava os cabelos da cara. Esfregou os olhos e respirou fundo a brisa fresca que lhe atravassava as ideias. Sentia a sensação de vazio e na mente conseguia-se desenhar um ponto de interrogação questionando a sua existência.
Conseguia ver o outro lado da estrada. Algumas portas direccionadas para a rua com slogans publicitários por cima. De repente, vindo do nada uma cara atravessa-se no seu plano de visão. Assusta-se e sustêm a respiração. O rapaz parecia ainda mais confuso do que ela própria e sentiu-se encomodado com a reacção de Joana. Tinha uns pequenos olhos azuis brilhantes e um cabelo completamente desalinhado que parecia rodopiar no alto da sua cabeça. Os finos e demarcados lábios rasgavam um aparente rosto jovial de adolescente irreverente e sonhador.

10 comentários:

Anônimo disse...

Ual...quanto suspense...tô amando isso... mal posso esperar pelo próximo...

Juliana Menegussi disse...

caraaaaaaa...Jooooooooo
que história!!
to toda arrepiada
adorei
bjx amiga

The Star disse...

Bem, o que se passará com a nossa Joaninha? E que final de capítulo este? :O
Estou a roer as unhas para ler o próximo capítulo!! :D

Beijinhos e bom feriado. ;)

Flávio Gonçalves disse...

Credo, Lu.

Está aonde???

Ai que riso, continua que eu não quero.

Flávio Gonçalves disse...

PS: Adorei a mulher que anda a mandar vir. LOOOL

Flávio Gonçalves disse...

Ai olha, só mais uma coisa, quando tens o próximo capitulo pronto?

Joanne disse...

LOOL

Obrigada pela tentativa, Flávio! hahaha


O próximo capitulo?? Não sei.......

o.o

Mas brevemente começarei a escrever outro! Obrigada a todos que leram! Bjoca!

Flávio Gonçalves disse...

De nada :P

Anônimo disse...

omg

estou que nem posso o relogio aponta as 2:15 .


ouço a minha mae sussurrar meio a dormir meio acordada um solene 'paulo vai-te deitar'.

eu sei que ela me ouvea sussurrar tbm 'ma...tá clada e dorme!sonha com o serafim!'

xDD

omg


joanne...mais uma vez amei o post!

estou super ancioso pelo poximo capitulo!

há ali algumas coisas que se nao me engano estão imprecisas...uma descriçao qualquer..mas estou embebido em sono o suficiente para fazer escorregar os dedos sobre as teclas para escrever e nada mais!

Jo..fico admirado com o teu poder de escrita. mg...admirado nao no sentido em que ache ou nao que és burra...mas sim admirado em relaçao a maneira clara como exprimes as ideias mais complexas!

filha..parabens!

:)

kiss


aah...e amanha...QUEIMA!


wooow


vou embebedar-me e apanhar uma DST qualquer!

(ou nao)

xDD

beijo

Joanne disse...

Pois é, Paulo, às vezes as pessoas complicam o que é simples. Para quê complexar ao máximo se o que eu quero dizer é para que todos o percebam?

Enfim, obrigada e espero que tenhas tido uma boa noite, ou um resto de boa noite... XD

Beijos
Obrigada a todos!

Perdoem-me mas eu ainda não escrevi o 6º capitulo, mas já tenho planos! Esperem-me! loool

Txauzinho!