Capítulo 10 - Let me bring you where two roads meet
.
Enquanto Sofia e Carla se entregavam ao seu momento íntimo, Elsa olhava para tudo um tanto emocionada perdida nos seus pensamentos.
- É melhor irmos embora. Já não estamos aqui a fazer nada… - Disse ela quase paralisada.
O velho nada disse. Nem tinha como ir para casa. A sua vontade era ficar ali mesmo.
- Eu vou só buscar as minhas coisas e acompanho-o a casa. – Disse ela logo desaparecendo no meio das pessoas.
- É melhor irmos embora. Já não estamos aqui a fazer nada… - Disse ela quase paralisada.
O velho nada disse. Nem tinha como ir para casa. A sua vontade era ficar ali mesmo.
- Eu vou só buscar as minhas coisas e acompanho-o a casa. – Disse ela logo desaparecendo no meio das pessoas.
.
***
.
Eve e Joana entravam agora no elevador. Aquele cubículo abafado com uma iluminação fraca. Uma das paredes estava coberta com um espelho. Joana exaltou-se quando viu a sua imagem reflectida nele. Respirou fundo conformada com o facto de nem sequer reconhecer a sua figura.
O cheiro a perfume feminino misturado com o odor de animais domésticos fazia-lhe náuseas e sentia a cabeça a andar à roda, como se não bastasse tudo aquilo com que se tinha deparado naquele dia. Ou com quase nada. Infelizmente.
Evelyn reparou na sua expressão de rosto mas nada disse. Carregou no botão e ambas subiram em silêncio até ao 9º andar. Eve empurrou a porta pesada e deu passagem a Joana.
- Para cima. – Indicou ela.
Subiram algumas escadas até a uma porta. Eve tocou à campainha.
- Não moras sozinha? – Pergunta Joana de imediato.
Sem dar tempo a Eve responder, alguém do outro lado abriu a porta devagarinho. Uma rapariga de cabelos ruivos escorridos espreita pela abertura. Fica parada a olhar estranhamente para Eve e Joana, especialmente para Joana, obviamente. A rapariga começou a sentir-se incomodada quando Eve falou:
- Vais deixar-me entrar na minha própria casa, ou não?
- Não me disseste que trazias visitas. – Disse ela parada no mesmo sítio. A sua voz era estridente e muito infantil. Fazia lembrar um cântico de uma criança de 5 anos. – Entrem, entrem!
- Obrigada. Moça, esta é a Bevin. – Disse Eve a Joana. – Vive comigo há mais de dois anos. Não neste apartamento, claro, mudámo-nos para cá há pouco tempo…
- Olá. – Disse Joana sorrindo.
- Olá! – Saudou a rapariga. Aparentava ter uns 15 anos no mínimo, mas Joana sabia que isso era impossível. Vestia uma túnica branca de mangas compridas quase até aos pés que lhe fazia lembrar um vestido de noiva. Mesmo que meio fantasmagórico. Os cabelos densos e luminosos caíam-lhe pelo corpo abaixo fazendo o rosto dela ficar ainda mais pequeno e angelical. – O meu nome é Bevin! Significa “senhora da melodia doce”, inspirado numa deusa celta.
Enquanto Bevin contava as origens do seu nome com orgulho e inspiração Eve fez uma careta a Joana que a fez conter o riso.
- Espantoso! – Disse Joana com entusiasmo enquanto olhava para Evelyn que continuava a fazer-lhe sinais.
- Eu acredito na reencarnarão e que isso tenha alguma coisa a ver com o meu passado distante, sabes? A origem do meu nome e… - Bevin virou-se para trás pressentindo Evelyn apanhando-a em flagrante. Lançou-lhe um olhar fulminante carregado de raiva, como se um anjo virasse diabo de um momento para o outro. Depois apanhou um caixote do chão e desapareceu por uma porta dos fundos.
- Desculpa isto… ela é muito temperamental! – Diz Evelyn revirando os olhos e abanando a cabeça de impaciência.
Joana encolheu os ombros. Olhou um pouco ao que a rodeava. A casa era bastante simples. As paredes eram um cinzento quase branco. No hall, por trás de porta de entrada encontrava-se um móvel sobrecarregado de velas de cheiro, chaves e panfletos espalhados. Mesmo por cima estava um espelho por onde Joana voltou a espreitar de relance. No outro lado seguia-se um corredor corrido por uma carpete gasta. O chão era de linóleo escuro e brilhante. Ao fundo havia uma porta entreaberta que Joana pensou ser a casa de banho. À sua direita havia outra entrada de onde saía uma certa claridade, era a cozinha. De resto não havia muito mais do que aquilo. Os quartos, eram três, e estavam alinhados em portas fechadas.
- Bem, penso que podemos ver os quartos depois, não é? Não vai ser preciso agora… ficas o tempo que quiseres, ou quando te sentires confiante e assim, piras-te… faz como quiseres! A casa a partir de agora passa a ser tua também, usa-a quando precisares! – Disse Eve enquanto ambas entravam na sala de estar, que era na outra ponta do corredor.
- Mas… afinal, eu estou cá temporariamente ou… não? – Pergunta Joana hesitante.
Eve encosta-se à ombreira da porta e olhou pensativa para o chão. – Eu já te disse, nós as duas vivemos cá sozinhas… tu também não tens lugar para onde ir e ainda temos aquele mistério da amnésia para descobrir! – Pensou durante algum tempo enquanto Joana se familiarizava com o espaço. - Se quiseres ficar por uns tempos não me importo… A Bevin também não… ela gosta de companhia às vezes! Mas tens que ter um certo cuidado com ela…
Joana olhou para Evelyn. Estava demasiado calma para o que acabara de dizer. Realmente não percebeu bem onde queria chegar, mas rapidamente se esqueceu disso.
Evelyn, sabia lá Joana porquê, disponibilizou-se demasiado rápido a ajuda-la. Mesmo assim, ainda se sentia estranhamente sozinha e esquecida no tempo. Era um pensamento muito perturbador, mas sentia-se melhor na companhia daquelas duas mulheres. Não imaginava sequer como teria sido se Eve não estivesse ali naquele momento… Ou nada teria sido por acaso?
Sem pensar mais nisso, Joana lá conheceu o seu quarto. Evelyn levou-a até lá. Realmente, Joana estranhou o facto de o espaço estar demasiado cheio e vivo para a receber daquela maneira. Parece que já havia sido usado recentemente.
- Este vai ser o meu quarto?
- Sim, podes ficar aqui.
- É um quarto de hóspedes, ou assim?
- É o meu quarto. Agora é teu.
Joana não queria acreditar. Evelyn achou-a na rua como uma mendiga, levou-a para sua casa, deixou-a ficar lá e disponibilizou o seu quarto, a sua cama, as suas coisas! O que era aquilo? Em que planeta aterrou, afinal?
O cheiro a perfume feminino misturado com o odor de animais domésticos fazia-lhe náuseas e sentia a cabeça a andar à roda, como se não bastasse tudo aquilo com que se tinha deparado naquele dia. Ou com quase nada. Infelizmente.
Evelyn reparou na sua expressão de rosto mas nada disse. Carregou no botão e ambas subiram em silêncio até ao 9º andar. Eve empurrou a porta pesada e deu passagem a Joana.
- Para cima. – Indicou ela.
Subiram algumas escadas até a uma porta. Eve tocou à campainha.
- Não moras sozinha? – Pergunta Joana de imediato.
Sem dar tempo a Eve responder, alguém do outro lado abriu a porta devagarinho. Uma rapariga de cabelos ruivos escorridos espreita pela abertura. Fica parada a olhar estranhamente para Eve e Joana, especialmente para Joana, obviamente. A rapariga começou a sentir-se incomodada quando Eve falou:
- Vais deixar-me entrar na minha própria casa, ou não?
- Não me disseste que trazias visitas. – Disse ela parada no mesmo sítio. A sua voz era estridente e muito infantil. Fazia lembrar um cântico de uma criança de 5 anos. – Entrem, entrem!
- Obrigada. Moça, esta é a Bevin. – Disse Eve a Joana. – Vive comigo há mais de dois anos. Não neste apartamento, claro, mudámo-nos para cá há pouco tempo…
- Olá. – Disse Joana sorrindo.
- Olá! – Saudou a rapariga. Aparentava ter uns 15 anos no mínimo, mas Joana sabia que isso era impossível. Vestia uma túnica branca de mangas compridas quase até aos pés que lhe fazia lembrar um vestido de noiva. Mesmo que meio fantasmagórico. Os cabelos densos e luminosos caíam-lhe pelo corpo abaixo fazendo o rosto dela ficar ainda mais pequeno e angelical. – O meu nome é Bevin! Significa “senhora da melodia doce”, inspirado numa deusa celta.
Enquanto Bevin contava as origens do seu nome com orgulho e inspiração Eve fez uma careta a Joana que a fez conter o riso.
- Espantoso! – Disse Joana com entusiasmo enquanto olhava para Evelyn que continuava a fazer-lhe sinais.
- Eu acredito na reencarnarão e que isso tenha alguma coisa a ver com o meu passado distante, sabes? A origem do meu nome e… - Bevin virou-se para trás pressentindo Evelyn apanhando-a em flagrante. Lançou-lhe um olhar fulminante carregado de raiva, como se um anjo virasse diabo de um momento para o outro. Depois apanhou um caixote do chão e desapareceu por uma porta dos fundos.
- Desculpa isto… ela é muito temperamental! – Diz Evelyn revirando os olhos e abanando a cabeça de impaciência.
Joana encolheu os ombros. Olhou um pouco ao que a rodeava. A casa era bastante simples. As paredes eram um cinzento quase branco. No hall, por trás de porta de entrada encontrava-se um móvel sobrecarregado de velas de cheiro, chaves e panfletos espalhados. Mesmo por cima estava um espelho por onde Joana voltou a espreitar de relance. No outro lado seguia-se um corredor corrido por uma carpete gasta. O chão era de linóleo escuro e brilhante. Ao fundo havia uma porta entreaberta que Joana pensou ser a casa de banho. À sua direita havia outra entrada de onde saía uma certa claridade, era a cozinha. De resto não havia muito mais do que aquilo. Os quartos, eram três, e estavam alinhados em portas fechadas.
- Bem, penso que podemos ver os quartos depois, não é? Não vai ser preciso agora… ficas o tempo que quiseres, ou quando te sentires confiante e assim, piras-te… faz como quiseres! A casa a partir de agora passa a ser tua também, usa-a quando precisares! – Disse Eve enquanto ambas entravam na sala de estar, que era na outra ponta do corredor.
- Mas… afinal, eu estou cá temporariamente ou… não? – Pergunta Joana hesitante.
Eve encosta-se à ombreira da porta e olhou pensativa para o chão. – Eu já te disse, nós as duas vivemos cá sozinhas… tu também não tens lugar para onde ir e ainda temos aquele mistério da amnésia para descobrir! – Pensou durante algum tempo enquanto Joana se familiarizava com o espaço. - Se quiseres ficar por uns tempos não me importo… A Bevin também não… ela gosta de companhia às vezes! Mas tens que ter um certo cuidado com ela…
Joana olhou para Evelyn. Estava demasiado calma para o que acabara de dizer. Realmente não percebeu bem onde queria chegar, mas rapidamente se esqueceu disso.
Evelyn, sabia lá Joana porquê, disponibilizou-se demasiado rápido a ajuda-la. Mesmo assim, ainda se sentia estranhamente sozinha e esquecida no tempo. Era um pensamento muito perturbador, mas sentia-se melhor na companhia daquelas duas mulheres. Não imaginava sequer como teria sido se Eve não estivesse ali naquele momento… Ou nada teria sido por acaso?
Sem pensar mais nisso, Joana lá conheceu o seu quarto. Evelyn levou-a até lá. Realmente, Joana estranhou o facto de o espaço estar demasiado cheio e vivo para a receber daquela maneira. Parece que já havia sido usado recentemente.
- Este vai ser o meu quarto?
- Sim, podes ficar aqui.
- É um quarto de hóspedes, ou assim?
- É o meu quarto. Agora é teu.
Joana não queria acreditar. Evelyn achou-a na rua como uma mendiga, levou-a para sua casa, deixou-a ficar lá e disponibilizou o seu quarto, a sua cama, as suas coisas! O que era aquilo? Em que planeta aterrou, afinal?
.
***
.
- É aqui.
Já fazia noite. Elsa encolheu-se no banco olhando para onde os máximos do automóvel conseguiam iluminar. Depois olhou para o seu acompanhante.
- Você vive aqui?
- Parece que sim…
Voltaram-se novamente.
- Obrigada, pela boleia. – Disse ele. Em silêncio, desaperta o seu cinto de segurança e abre a porta.
- Se amanha estiver disponível podíamo-nos encontrar. – Diz Elsa antes de o homem ir-se. Depois olhou novamente para a velha casa e parou para respirar.
Ele continuou imóvel, debruçado do lado de fora.
– Para conversar sobre a Joana e enfim, outras coisas que sejam necessárias. – Falou ela.
Ele assentiu e não se mexeu.
– Às três pode ser? Aqui? – Ele tornou a assentir. - Gostaria de saber o seu nome… para o poder tratar de alguma forma… - Diz Elsa numa troca de olhares.
- Então, amanha às três. Cá esperarei. Adeus.
Elsa esperou até o velho entrar em casa. Depois dessa pausa muda, fez marcha atrás e retomou a sua viajem até ao seu apartamento matutando sobre tudo aquilo que acontecera naquele dia.
Já fazia noite. Elsa encolheu-se no banco olhando para onde os máximos do automóvel conseguiam iluminar. Depois olhou para o seu acompanhante.
- Você vive aqui?
- Parece que sim…
Voltaram-se novamente.
- Obrigada, pela boleia. – Disse ele. Em silêncio, desaperta o seu cinto de segurança e abre a porta.
- Se amanha estiver disponível podíamo-nos encontrar. – Diz Elsa antes de o homem ir-se. Depois olhou novamente para a velha casa e parou para respirar.
Ele continuou imóvel, debruçado do lado de fora.
– Para conversar sobre a Joana e enfim, outras coisas que sejam necessárias. – Falou ela.
Ele assentiu e não se mexeu.
– Às três pode ser? Aqui? – Ele tornou a assentir. - Gostaria de saber o seu nome… para o poder tratar de alguma forma… - Diz Elsa numa troca de olhares.
- Então, amanha às três. Cá esperarei. Adeus.
Elsa esperou até o velho entrar em casa. Depois dessa pausa muda, fez marcha atrás e retomou a sua viajem até ao seu apartamento matutando sobre tudo aquilo que acontecera naquele dia.
.
***
.
Bevin não voltou a sair do seu quarto até ao meio-dia, quando resolveu arrastar-se até à cozinha para beber chá e atazanar o juízo de Eve, que a tentava ignorar. Depois voltou a rastejar para o seu cubículo. Enquanto Evelyn espreitava alguma coisa dentro do forno Joana sentou-se numa cadeira e mordiscou um pão continuando sempre a fazer perguntas obtendo sempre uma resposta descontraída e no mesmo tom.
.
***
.
Carla engoliu o comprimido com três goles de água seguidos. Depois voltou para o seu quarto.
- Importas-te que eu fique aqui? – Pergunta Sofia quando Carla entra. Tinha os cabelos soltos e meticulosamente escovados. Encostada na cama com a almofada no colo, sob a luz débil do abajur, Sofia seguiu a mãe com o olhar.
- Claro.
Carla retirou a sua almofada do guarda-fatos e colocou-a num canto da sua cama ao mesmo tempo que se deitava sobre ela, sem se cobrir.
- Conta-me, o que se passa nessa tua cabecinha desta vez? – Perguntou Carla num fio de voz calorosa e fraca.
- Ah, não é nada. Vim apenas fazer-te companhia… - Responde a rapariga ajeitando a travesseira também e deitando-se ao lado de sua mãe, sobre a colcha desfeita, sem se cobrir.
- Está bem.
Carla fecha os olhos lentamente mesmo que o sono teimasse a não vir.
- Mãe, só nos resta esperar, não é? Só podemos esperar. – Pergunta Sofia desperta.
- Sim, apenas esperar. – Responde a outra calmamente.
Sofia também fechou os olhos à medida que se ia acalmando gradualmente. Carla continuou a dispersar o sono. O vento fazia os cortinados ondularem levemente deixando entrar no quarto uma brisa muito subtil embalando as duas. Quando se apercebeu que o comprimido nunca faria efeito, caminhou até à janela aberta e olhou para a noite seca e privada que havia lá fora. Estava lua cheia.
- Importas-te que eu fique aqui? – Pergunta Sofia quando Carla entra. Tinha os cabelos soltos e meticulosamente escovados. Encostada na cama com a almofada no colo, sob a luz débil do abajur, Sofia seguiu a mãe com o olhar.
- Claro.
Carla retirou a sua almofada do guarda-fatos e colocou-a num canto da sua cama ao mesmo tempo que se deitava sobre ela, sem se cobrir.
- Conta-me, o que se passa nessa tua cabecinha desta vez? – Perguntou Carla num fio de voz calorosa e fraca.
- Ah, não é nada. Vim apenas fazer-te companhia… - Responde a rapariga ajeitando a travesseira também e deitando-se ao lado de sua mãe, sobre a colcha desfeita, sem se cobrir.
- Está bem.
Carla fecha os olhos lentamente mesmo que o sono teimasse a não vir.
- Mãe, só nos resta esperar, não é? Só podemos esperar. – Pergunta Sofia desperta.
- Sim, apenas esperar. – Responde a outra calmamente.
Sofia também fechou os olhos à medida que se ia acalmando gradualmente. Carla continuou a dispersar o sono. O vento fazia os cortinados ondularem levemente deixando entrar no quarto uma brisa muito subtil embalando as duas. Quando se apercebeu que o comprimido nunca faria efeito, caminhou até à janela aberta e olhou para a noite seca e privada que havia lá fora. Estava lua cheia.