Capítulo 7 – Won’t you come back tomorrow?
Primeira Parte
Primeira Parte
Ivone esboçou um largo sorriso de contentamento ao baixar o auscultador do telefone. Desapertou com agilidade o avental do corpo e atirou-o para um cadeirão verde e poeirento no canto da sala. Apresentou-se à frente do espelho da entrada e arranjou os caracóis com as mãos satisfeita com a sua descoberta, e que lhe saíu bastante barata, por um acaso.
- António, vamos dar um passeio, querido! – diz ela dando os últimos retoques na roupa.
- Tás doida? – pergunta ele incrédulo aparecendo no corredor. – Temos trabalho a fazer! Não estamos com tempo para passeios!
- Deixa, o café fica por conta da miúda! – diz ela rispidamente. – Vamos lá!
- Tudo bem... – diz ele com pouca convicção voltando para dentro. – Então, onde queres ir?
- Dar uma voltinha pelas redondezas...
Ambos moravam no apartamento restaurado que ficava por cima do seu negócio. Aquele era um bairro muito típico do Porto e o mais antigo também. Não era zona muito apreciada pelos visitantes, talvez pela crueza dos habitantes e costumes reservados apenas aos mesmos. Toda a gente se conhecia lá, e por isso a uma nova cara já era motivo para se comentar e por vezes levantarem-se suspeitas e boatos que originavam olhares desconfiados. Talvez por essas pessoas viverem num mundo tão à parte. Outrora havia sido um bom lugar para se viver. O rio Douro brilha a poucos passos das casas e situa-se num bom lugar com vistas lindíssimas.
Passava pouco das três horas quando Ivone e António deixaram a casa e o café por conta da sua filha mais velha. Ivone estava mais que decidida a descobrir a história que o velho deixou por contar. A história escondida por detrás dos pequenos olhos azuis empolgantes. Por isso levou o marido com ela à primeira oportunidade que viu.
A tarde aquecia cada vez mais. O Sol já se posicionava ligeiramente para a esquerda o que já era bastante bom porque fazia alguma sombra em alguns sítios. António parou alguns passos atrás de Ivone e olhou para o beco odiondo e cinzento onde se encontravam. Não havia nada além de paredes altas e um pequeno e triste edifício que parecia deslocado do espaço.
- Tens a certeza que é esta a casa? – pergunta António seguindo a esposa receoso.
- Sim, a minha irmã disse-me que viu a ambulãncia aqui mesmo. Só pode ser esta a casa. – informou Ivone avançando sem medo.
- Como estás a pensar entrar? Olha que alguém ainda nos apanha, Ivone!! – alertou o pobre homem.
A mulher empurra a porta entreaberta e entra. Fugindo dos aglomerados de lixo amontoado nas escadas sobe-as rapidamente até chegar ao primeiro e único andar. António segue-a lentamente prestando mais atenção às palavras obscenas escritas a tinta nas paredes.
- E se estiver alguém lá, Ivone? Não podemos fazer isto, mulher, estamos a invadir a privacidade de uma pessoa! - O que estás a dizer? – pergunta ela voltando-se para o marido. – Quero só saber notícias da rapariga e dar algum apoio moral ao senhor! Não sejas tolo mas é!
- António, vamos dar um passeio, querido! – diz ela dando os últimos retoques na roupa.
- Tás doida? – pergunta ele incrédulo aparecendo no corredor. – Temos trabalho a fazer! Não estamos com tempo para passeios!
- Deixa, o café fica por conta da miúda! – diz ela rispidamente. – Vamos lá!
- Tudo bem... – diz ele com pouca convicção voltando para dentro. – Então, onde queres ir?
- Dar uma voltinha pelas redondezas...
Ambos moravam no apartamento restaurado que ficava por cima do seu negócio. Aquele era um bairro muito típico do Porto e o mais antigo também. Não era zona muito apreciada pelos visitantes, talvez pela crueza dos habitantes e costumes reservados apenas aos mesmos. Toda a gente se conhecia lá, e por isso a uma nova cara já era motivo para se comentar e por vezes levantarem-se suspeitas e boatos que originavam olhares desconfiados. Talvez por essas pessoas viverem num mundo tão à parte. Outrora havia sido um bom lugar para se viver. O rio Douro brilha a poucos passos das casas e situa-se num bom lugar com vistas lindíssimas.
Passava pouco das três horas quando Ivone e António deixaram a casa e o café por conta da sua filha mais velha. Ivone estava mais que decidida a descobrir a história que o velho deixou por contar. A história escondida por detrás dos pequenos olhos azuis empolgantes. Por isso levou o marido com ela à primeira oportunidade que viu.
A tarde aquecia cada vez mais. O Sol já se posicionava ligeiramente para a esquerda o que já era bastante bom porque fazia alguma sombra em alguns sítios. António parou alguns passos atrás de Ivone e olhou para o beco odiondo e cinzento onde se encontravam. Não havia nada além de paredes altas e um pequeno e triste edifício que parecia deslocado do espaço.
- Tens a certeza que é esta a casa? – pergunta António seguindo a esposa receoso.
- Sim, a minha irmã disse-me que viu a ambulãncia aqui mesmo. Só pode ser esta a casa. – informou Ivone avançando sem medo.
- Como estás a pensar entrar? Olha que alguém ainda nos apanha, Ivone!! – alertou o pobre homem.
A mulher empurra a porta entreaberta e entra. Fugindo dos aglomerados de lixo amontoado nas escadas sobe-as rapidamente até chegar ao primeiro e único andar. António segue-a lentamente prestando mais atenção às palavras obscenas escritas a tinta nas paredes.
- E se estiver alguém lá, Ivone? Não podemos fazer isto, mulher, estamos a invadir a privacidade de uma pessoa! - O que estás a dizer? – pergunta ela voltando-se para o marido. – Quero só saber notícias da rapariga e dar algum apoio moral ao senhor! Não sejas tolo mas é!
***
Carla não sabia como tinha sido capaz de conduzir o carro se nem sequer sentia as pernas. As mãos tremiam-lhe e estava a suar por todos os lados. Sofia não falou nenhuma palavra durante o trajecto inteiro. Limitou-se a olhar para o lado da janela enquando a mãe passava semáforos vermelhos e ignorava os outros condutores que businavam indignados e confusos. Pensava nas mil e uma coisas que podiam ter acontecido à irmã mas não tinha coragem de pôr a hipótise de lhe acontecer algo de grave. Carla estaciona desajeitadamente o automóvel no parque do hospital. Saem as duas e atravessam a correr por entre os carros. Ao chegar à entrada do edificio aceleram o passo. É então que empurram as pesadas portas de madeira, para uma nova dimensão.
***
- Como pudeste verificar, não está ninguém em casa, por isso vamos embora daqui. – diz António pela segunda vez a Ivone que permanecia imóvel em frente à porta do velho.
Pensativa, passou a mão pelo queixo e olhou à sua volta. Não havia nada ao seu alcance a não ser paredes corridas num pequeno corredor estreito.
- Calma, homem. Só quero verificar que está tudo bem.
António estava confuso. Cruzou os braços e esperou.
- Sabes, as pessoas, por muito que saibam que é óbvio demais esconder a chave debaixo do tapete de entrada... – fala ela abaixando-se diante da porta. - ... nunca deixam de o fazer.
António arregalou tanto os olhos que parecia que lhe iriam saltar das órbitras. Ivone saca uma pequena chave de metal por de baixo do tapete gasto da soleira da porta e fa-la dançar diante dos seus olhos, vitoriosa.
- Fantástico! – exclamou o homem ironicamente. – Vamos embora.
- E se... – falou Ivone metendo a chave na fechadura.
- Oh... não Ivone!
- Sim! – contradisse ela rindo-se.
- Acabo de conhecer o teu lado mais demoníaco, e não estou a gostar nada!
Ivone riu-se ainda mais quando a chave rodou com facilidade e a porta deixou entrar alguns raios de luz para o corredor escuro. O coração de António disparou quando viu a mulher a espreitar para lá do vão da porta.
- Tens de ver isto, maridinho! – disse ela entre gargalhadas.
- Grande apoio moral que estás a dar...
Pensativa, passou a mão pelo queixo e olhou à sua volta. Não havia nada ao seu alcance a não ser paredes corridas num pequeno corredor estreito.
- Calma, homem. Só quero verificar que está tudo bem.
António estava confuso. Cruzou os braços e esperou.
- Sabes, as pessoas, por muito que saibam que é óbvio demais esconder a chave debaixo do tapete de entrada... – fala ela abaixando-se diante da porta. - ... nunca deixam de o fazer.
António arregalou tanto os olhos que parecia que lhe iriam saltar das órbitras. Ivone saca uma pequena chave de metal por de baixo do tapete gasto da soleira da porta e fa-la dançar diante dos seus olhos, vitoriosa.
- Fantástico! – exclamou o homem ironicamente. – Vamos embora.
- E se... – falou Ivone metendo a chave na fechadura.
- Oh... não Ivone!
- Sim! – contradisse ela rindo-se.
- Acabo de conhecer o teu lado mais demoníaco, e não estou a gostar nada!
Ivone riu-se ainda mais quando a chave rodou com facilidade e a porta deixou entrar alguns raios de luz para o corredor escuro. O coração de António disparou quando viu a mulher a espreitar para lá do vão da porta.
- Tens de ver isto, maridinho! – disse ela entre gargalhadas.
- Grande apoio moral que estás a dar...
***
O velho deixou que a água deslizasse livremente pela garganta e desfrutou ao máximo daquele pequeno prazer. Pousou o copo vazio na secretária e voltou a sentar-se.
- Não sabe que nestas alturas se deve beber muita água para não desidratar? – resmungou a moça observando-o cuidadosamente.
- Eu costumo beber muita água. O tempo é que não ajuda nada... – grunhiu ele passando as mãos pelo cabelo molhado.
- Por isso mesmo! Bom, deixando isso de parte, quero saber mais pormenores de como tudo aconteceu! Os enfermeiros que o acompanharam afirmaram que não sabia muito bem o que se tinha passado a Joana partindo do princípio que nem sequer a conhece... como foi ela parar a sua casa?
- Não é bem assim... Eu quis ajudá-la a tratar do seu poster e por isso levei-a para minha casa. Na verdade, eu encontrei-a na rua perdida.
- Sim. – consentiu. – Nós contactamos com a mãe dela e ela estava muito aflita por nem saber onde ela estava. Sabe que isso pode trazer confusão para o seu lado.
- Sim, sei disso tudo! Sei disso desde o primeiro instante que estive com ela, mas que queria que fizesse eu? Agora essas circustancias não me incomodam e nem sequer alteram a situação em que a Joana está! A única prioridade neste momento é ela, certo? A propósito, deviam-se preocupar primeiro com ela não comigo. – disse ele um tanto irritado.
A mulher riu-se delicadamente e chegou-se à frente olhando-o directamente nos olhos.
- A Joana já está sobre observação. Agora, aqui podemos tratar dos assuntos menos relacionados com ela. Olhe, eu compreendo a sua posição, e por isso quero ajudá-lo.
A sua voz doce mas directa entuou nos seus ouvidos como uma melodia. Ela sorriu levemente e deixou a sua mente ainda mais baralhada do que já estava.
- Agradeço imenso a sua disponibilidade, a sério! – disse ele levantando-se de retorno à saída. – Mas não preciso agora de defensores! Sei bem o que faço e quais as minhas intensões!
A médica levanta-se de rompante e impede a passagem do velho.
- Não fuja de mim! – ordenou ela puxando-lhe o braço.
O homem não se queria deixar levar pelo cântico enfeitiçador da sua voz mas retrocedeu.
A porta abriu-se de rompante sem aviso e Carla entrou pelo consultório seguida de Sofia.
- Hum... boa tarde, sou a mãe da Joana e... – balbucionou Carla procurando alguém dentro da sala.
- Sim, sim! Falamos lá fora! – disse a médica conduzindo-a para fora do consultório.
Sofia ficara.
O homem reparou o quanto era parecida com Joana. O olhar curioso e imperdoável por dirigir uns olhos tão verdes e grandes quanto possível não faziam só recordar Joana. Sabia que estava mais alguém relacionado com as duas...
Carla puxou Sofia para fora fazendo esta rodopiar desajeitadamente.
- Não sabe que nestas alturas se deve beber muita água para não desidratar? – resmungou a moça observando-o cuidadosamente.
- Eu costumo beber muita água. O tempo é que não ajuda nada... – grunhiu ele passando as mãos pelo cabelo molhado.
- Por isso mesmo! Bom, deixando isso de parte, quero saber mais pormenores de como tudo aconteceu! Os enfermeiros que o acompanharam afirmaram que não sabia muito bem o que se tinha passado a Joana partindo do princípio que nem sequer a conhece... como foi ela parar a sua casa?
- Não é bem assim... Eu quis ajudá-la a tratar do seu poster e por isso levei-a para minha casa. Na verdade, eu encontrei-a na rua perdida.
- Sim. – consentiu. – Nós contactamos com a mãe dela e ela estava muito aflita por nem saber onde ela estava. Sabe que isso pode trazer confusão para o seu lado.
- Sim, sei disso tudo! Sei disso desde o primeiro instante que estive com ela, mas que queria que fizesse eu? Agora essas circustancias não me incomodam e nem sequer alteram a situação em que a Joana está! A única prioridade neste momento é ela, certo? A propósito, deviam-se preocupar primeiro com ela não comigo. – disse ele um tanto irritado.
A mulher riu-se delicadamente e chegou-se à frente olhando-o directamente nos olhos.
- A Joana já está sobre observação. Agora, aqui podemos tratar dos assuntos menos relacionados com ela. Olhe, eu compreendo a sua posição, e por isso quero ajudá-lo.
A sua voz doce mas directa entuou nos seus ouvidos como uma melodia. Ela sorriu levemente e deixou a sua mente ainda mais baralhada do que já estava.
- Agradeço imenso a sua disponibilidade, a sério! – disse ele levantando-se de retorno à saída. – Mas não preciso agora de defensores! Sei bem o que faço e quais as minhas intensões!
A médica levanta-se de rompante e impede a passagem do velho.
- Não fuja de mim! – ordenou ela puxando-lhe o braço.
O homem não se queria deixar levar pelo cântico enfeitiçador da sua voz mas retrocedeu.
A porta abriu-se de rompante sem aviso e Carla entrou pelo consultório seguida de Sofia.
- Hum... boa tarde, sou a mãe da Joana e... – balbucionou Carla procurando alguém dentro da sala.
- Sim, sim! Falamos lá fora! – disse a médica conduzindo-a para fora do consultório.
Sofia ficara.
O homem reparou o quanto era parecida com Joana. O olhar curioso e imperdoável por dirigir uns olhos tão verdes e grandes quanto possível não faziam só recordar Joana. Sabia que estava mais alguém relacionado com as duas...
Carla puxou Sofia para fora fazendo esta rodopiar desajeitadamente.
O velho viu-se finalmente sozinho. Já não aguentava mais aquilo! Bateu ruidosamente com o punho num armário e tentou explusar toda a raiva que sentia. Como é que podia conhecer a rapariga se nem sequer se conhecia a si próprio?
Fim da primeira Parte