domingo, 2 de dezembro de 2007

Capítulo 12

Some pray for others steal

Joana saiu para o corredor mais leve que nem uma pena. Trazia a medalha e o fio consigo para mostrar a Eve. Poderia ser mais fácil descobrir a sua identidade se aquele colar fosse estudado, tal como a roupa que trazia vestida. O banho servira também para a fazer pensar no que fazer a seguir. O que a levara a acordar, sozinha e desamparada, numa rua a meio de um amanhecer, e sem trazer consigo memória alguma? O que tinha acontecido?
- Uau! Estás sem dúvida com muito melhor aspecto! – Exclamou Eve assobiando quando ambas se cruzaram.
- Achas? Eu não sabia o que escolher para vestir… estava com receio.
- Estás óptima! Já não vestia essas calças há muito tempo porque me ficavam apertadas, mas podes ficar com elas… assentam-te bem. – Disse ela olhando-a melhor. O seu sorriso desvaneceu-se quando Joana abriu a mão e exibiu o colar. – O que é isso?
- É meu… tem uma inicial na frente e uma frase por trás.
Eve pegou nele e examinou-o.
- É bonito. Achas que o teu nome pode estar relacionado com o “J”?
- Hum… é provável. – Disse Joana. - Isto é tudo tão complicado para mim!
- Imagino. O que é isto? “Um gesto para o amor eterno”? – Palavreou Evelyn com dificuldade. Fez uma careta e olhou para Joana. – Consegues decifrar?
- Sim.
- Sim? Falas mais alguma língua?
- Não, acho que não, mas sei o que isso quer dizer.
- Podes eventualmente saber o significado da frase, mas isso não quer dizer que possas saber falar esta língua… como um segundo idioma, sei lá!
Joana respirou fundo e encostou-se à ombreira da porta. – Não sei… E porque raio iria estar isso escrito dessa forma?
- Não sei. Traduz-me.
- Um gesto para o amor eterno. – Respondeu Joana em Inglês.
- Como podes ter essa certeza?
- Não sei. Mas tenho.
- Isto é muito estranho. – Disse Eve olhando uma vez mais para o pequeno objecto.
- A quem o dizes.
- Não te consegues recordar de nada através dele? – Pergunta Eve devolvendo o fio aproveitando para o fazer balançar diante dos seus olhos. – De alguém. De algum lugar…
A rapariga aceita-o na palma da mão e aproxima-o da vista.
- Não… sinto que é apenas um lindo colar, e que me pertence. Sinto que ele me pertence, percebes? De qualquer das maneiras acho que tenho uma ligação especial com ele. – Respondeu ela olhando para o coração de prata. Sorriu levemente e aconchegou-o na sua mão.
- Isto vai ser mais difícil do que eu esperava.
- Conversas de quintal? – Uma voz fez-se ouvir no fundo do corredor. – Também me quero juntar! – Bevin aproxima-se mais. – Que caras são essas?
- As nossas. – Respondeu Evelyn.
Seguindo-a, um cachorrinho castanho saltitou pelo corredor. Ultrapassou o passo da dona e correu à sua volta como se se encontrasse em liberdade ao fim de uma eternidade. Bevin quase tropeçava nele quando este passou como um relâmpago junto dos seus pés. Irrompeu-se em gargalhadas vendo o seu animal feliz exibindo as suas acrobacias diante das três raparigas. Soltou três latidos e abanou o rabo pedindo alguma atenção.
Joana olhava divertida para ele e Bevin, com o seu olhar apaixonado e lunático, pegou-lhe ao colo. O bichinho lambeu-lhe a mão e tentou trepar mais alto pelo seu corpo acima.
- Não te admires se qualquer dia sair em marcha do quarto dela o jardim zoológico inteiro. – Falou Eve de esguelha a Joana.
- Eles parecem gostar muito um do outro.


***

Ivone desceu da carrinha. Com um gesto firme afastou as madeixas de cabelo que o vento empurrou para a cara. Depois ajustou a alça da bolsa ao ombro e olhou para o edifício alto e levemente desgastado pelo tempo. Outra rajada de vento seco e quente fez o seu cabelo voar num remoinho desorganizado.
Aproximava-se mais um dia abrasador. A brisa matinal morta que se arrastava daria lugar ao calor sufocante e consumidor a que aqueles dias já estavam habituados. O Verão chegara quase tão repentinamente como quando um aguaceiro primaveril interrompe um dia luminoso, mas neste ano nem a isso se deveu. A passagem brusca do Inverno rigoroso para o Verão a valer era ainda um facto incompreensível para algumas mentes. Mas para outras, isso tinha uma resposta muito simples, aquecimento global. E em Portugal isso já se fazia sentir muito bem.
António trancava a carrinha e olhava simultaneamente para a fachada do hospital. Não tinha reparado o quanto aquele sítio envelhecera com o passar dos tempos. Depois olhou para Ivone que lhe enfiava um braço no dele conduzindo-o para a entrada. Um casal de braço dado causava sempre muito boa impressão, pensava ela.


***

- Há imensos caminhos por onde eu posso ir nesta conversa, mas eu prefiro ser claro e directo.
- Agradeço. – Falou Carla educadamente sentindo-se cada vez mais contraída e desesperada, por dentro.
Encontrava-se sozinha, numa conversa delicada que podia determinar o futuro da sua filha. Em quem se ia apoiar? Por momentos veio-lhe à cabeça a imagem de Miguel. Era ele que estaria ali ao seu lado, se não tivesse morrido. Ele seria novamente o seu ombro, o seu pilar. Na pior das hipóteses seria ele que a sustentaria se a filha morresse se ele mesmo não tivesse ido também. E se a sua menina morresse? Não havia Miguel. Havia Sofia, mas ela ia sofrer muito também.
– Continue. – Incentivou ela sentindo a cabeça a latejar.
- O que a sua filha teve foi um AVC, não há dúvidas disso. Mas supomos que seja algo mais, porque sabemos que um AVC na idade dela é muito invulgar. Por isso os exames vão continuar até que aprofundemos o diagnóstico. – Falou o médico pacificamente olhando-a nos olhos.
- E como é que ela está?
- Esperemos que fique melhor, ou pelo menos estável. Por enquanto encontra-se em estado de coma superficial, estamos a lutar para que não venha a precisar das máquinas se entrar em coma profundo.
- Oh, meu Deus…

sábado, 20 de outubro de 2007

Capítulo 11

Dream beneath a desert sky

Eve e Joana tiveram um almoço calmo conversando um pouco sobre coisas banais. Bevin não saiu do quarto, como era de esperar, mas conforme Eve disse, a birra não ia durar muito mais do que aquilo.
Era uma Quinta-feira, a ultima do mês, e segundo ela, haveria reunião do condomínio no prédio, enfim, para tratar de assuntos pendentes sobre as obras feitas recentemente no elevador, e as telhas que foram colocadas para reforçar o combate contra o Inverno rigoroso que estava à porta. Evelyn não tinha vontade nenhuma de tratar dessas burocracias que só a obrigavam a pagar umas massas extra para pagar as reparações. E o facto de se juntar durante meia hora com as vizinhas do andar de cima fazia-a ficar com pele de galinha.
Joana ofereceu a sua companhia mas Eve garantiu que esta ficaria a descansar um pouco, e assim decidir se no dia seguinte deveria ir a um médico ou não. Ela pensou que a perda de memória fosse algo relacionado com algum choque ou acidente que tivesse acontecido e era sempre mais seguro fazer alguns exames. Joana concordou, embora um pouco assustada com a hipótese de perder para sempre a memória da sua vida. Será que havia pessoas que a procuravam por aí? A ideia fazia-lhe calafrios e sentiu-se novamente sozinha, mesmo na companhia de Evelyn.
- Queres tomar um banho? Deves estar a precisar e talvez te faça relaxar. – Pergunta Eve levantando a loiça da mesa.
- Hum, talvez seja isso que esteja a precisar. – Ou não deveria ser necessariamente mas relaxar ajudaria.
Esta tentava despachar os copos e as canecas que estavam amontoados na banca. Passava um esfregão rapidamente neles para haver espaço para a restante loiça. Duas pessoas não sujavam assim tanto mas a pequena banca já estava sobrecarregada até cima antes de Joana lhe pegar.
- Oh, não, não te preocupes com isso! – Disse-lhe ela afastando-a para o lado enquanto colocava mais uma pilha de pratos em cima do monte. - Então… a casa de banho fica já à direita. – Informou Eve apontando para a porta. – As toalhas estão debaixo do lavatório e podes vestir algo meu se quiseres, no meu quarto, procura lá. – Depois de largar tudo de maneira a não cair encostou-se à bancada de frente para ela.
Joana esboçou-lhe um sorriso rápido enquanto secava as mãos ao vestido. Depois saiu num passo rápido procurando meia alheia o quarto de Eve, ou melhor, o seu quarto.
Evelyn riu-se distraída e sacou um maço de tabaco do bolso. Não era apenas um banho que a fazia relaxar.

***

Ivone aplicou o batom cor-de-rosa. Depois olhou-se no espelho e colocou de imediato um pouco de blush. De seguida olhou para a face redonda e rosada, e apostou num tom violeta para as pálpebras. Estava pronta. Passou rapidamente uma escova no cabelo e enrolou à volta dos pulsos um molho de pulseiras. Agora sim.
O Sol matinal entrava pela janela do quarto. As cortinas opacas e pesadas haviam sido repuxadas para os lados a fim de deixar entrar toda aquela aragem pela manhã. Não era hábito Ivone fazer aquilo, mas queria sentir-se especialmente fresca e confiante naquele dia, e nada melhor que uma boa dose de luz para acordar.
António já estava a trabalhar, mas por aquela altura a tasca não tinha muito movimento, pelo que Ivone falou que era preferível saírem cedo do que depois terem de aguentar as queixas dos clientes quando apenas uma pessoa, a filha mais velha do casal, se encarregava do negócio na hora de ponta.
Marília Costa tinha apenas 17 anos, mas tinha desistido dos estudos há já um ano, quando era repetente por 4 anos consecutivos. Depois de andar todo esse tempo a passear os livros da escola para casa e vice-versa, chegou à conclusão que havia de se safar muito melhor se fosse para o mercado de trabalho. Era jovem e desenrascada, não haviam de faltar oportunidades. Agora era ajudante de cabeleireira no salão de beleza da tia, e de vez em quando dava uma ajuda no café dos pais. Tinha uma vida social fora disso mas arranjava tempo para tudo. Depois havia Jorge, um rapaz de 12 anos que mal parava em casa depois das aulas. A bola dentro da mochila era o essencial todos os dias para que tudo corresse bem!
Era assim a vida daquela singela família. Todas as alegrias, desgraças, especulações eram todas geradas em torno do pequeno bairro onde habitavam juntamente com outras famílias semelhantes.
***

Joana entrou na casa de banho pela primeira vez. Estava tão húmida e gélida como o ambiente lá fora. Pela primeira vez sentiu que toda ela assim o estava também.
Pousou o monte de roupa em cima do tampo da sanita e tratou de tirar duas toalhas do sítio que Eve mencionou. Pousou-as em cima do lavatório. Levantou o olhar e deparou-se consigo reflectida no espelho. Endireitou-se e olhou mais atentamente. Era jovem, bastante. Mas não aparentava ser muito mais do que Bevin, pelo menos fisicamente. Era baixa e magra. Mais baixa do que magra. Tinha cabelos loiros esticados e escalados dos ombros até meio das costas. Vergava um vestido azul atlântico com um decote recto e simples com mangas curtas. Os braços desciam pelo corpo, esguios e brancos como neve, tal como todo o resto. Considerou-se uma rapariga bonita… mas não se considerava um “eu” a sério, apenas via uma desconhecida reflectida no espelho.
Suspirou enquanto desapertava o vestido. Sentiu um arrepio na espinha quando este deslizou e caiu no chão aos seus pés. Foi então que viu algo no espelho a brilhar junto ao seu peito. Era um fio prateado com qualquer coisa brilhante pendurada. Pegou nela com a ponta dos dedos. O pequeno coração de prata fazia-se maravilhar aos seus olhos confusos. Olhou com detalhe quando pensou ter visto algo gravado nele. Um “J”. Rodou a pequena medalha para poder ver a gravura. Estava escrito, “Um gesto para o amor eterno.” Com letras muito pequenas.
- Um gesto para o amor eterno… - Murmurou entre dentes abanando a cabeça.
A frase não estava escrita em Inglês. Mas percebia-a. Mas não lhe dizia absolutamente nada. Como é que isso era possível? E o “J”, poderia ele indicar alguma coisa? O seu nome talvez, e isso já era um grande passo, pensou.
Desapertou o fio com um certo cuidado e pousou-o ao canto do lavatório.
Entrou na banheira a tremer, matutando no assunto. Tinha um enigma para decifrar. Era algo que a fascinava de facto, enigmas, mas este era deveras assustador. Abriu a torneira, abstraída de tudo à sua volta. O chuveiro por cima da sua cabeça cuspiu uma corrente de água fria tão repentina quanto foi o impulso de fugir dela.
***

Carla saiu de manha cedo. Marcavam oito e um quarto no seu pulso e já se aposentava no consultório médico. Aquele era um espaço grande, arejado e luminoso. Muito bem-parecido. Olhava em volta enquanto o copo de café fumegava em cima da mesa. Supunha que fosse aquele o pequeno-almoço de todo o pessoal que havia ficado com o turno da noite.
Bastava ficar umas horas retida num hospital para se habituar àquele ritmo e hábitos. Não que essas horas bastassem para se sentir familiarizada com tudo aquilo que a rodeava.
Não devia de faltar muito para completar nove anos desde a morte do marido. Cerca de dez anos e meio desde que lhe foi diagnosticado cancro num pulmão. E tudo isso apenas 3 anos depois de Sofia nascer. Pobrezinha, mal conheceu o pai.
Miguel foi o pilar que sustentou Carla. E estava-lhe eternamente grata por tudo, mesmo ainda com um enorme buraco no coração pela sua morte tão prematura. Miguel foi um ombro amigo, fiel e sempre presente. Miguel foi seu marido que a aceitou e acolheu com uma criança pequena e sem pai. Miguel foi quem lhe proporcionou um lar e uma família. E ela amara-o, tanto quanto foram as lágrimas derramadas no momento da despedida. Mas seguira em frente. Joana tinha seis anos e Sofia três. As duas não mereciam que a mãe também desaparecesse do seu alcance, por isso sempre esteve lá, de corpo e alma. Se até ao momento Miguel fora os seus alicerces, então a partir dali ela própria seria os alicerces das suas pequenas.
E ali estava, de novo para enfrentar algo que ainda não sabia bem o que era, mas impossível de não se esperar o pior. E no mesmo lugar. Deu para concluir que não mudou muita coisa. Um lugar de opressão e dor e onde a esperança já se foi. Mas também onde as vidas de toda a gente eram reconstruídas à medida que o tempo passava, dentro naquelas paredes verde mentol. Podiam passar meses ou ser apenas uma questão de minutos que tudo virava de pernas para o ar.
- Desculpe a demora.
O homem entrou de rompante fazendo Carla parar de torcer um papel e dar um salto na cadeira.
- Estive agora com a sua filha. – Sentou-se à sua frente e baixou os óculos de leitura. - Carla Novais, certo?

domingo, 23 de setembro de 2007

Capítulo 10

Capítulo 10 - Let me bring you where two roads meet
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Enquanto Sofia e Carla se entregavam ao seu momento íntimo, Elsa olhava para tudo um tanto emocionada perdida nos seus pensamentos.
- É melhor irmos embora. Já não estamos aqui a fazer nada… - Disse ela quase paralisada.
O velho nada disse. Nem tinha como ir para casa. A sua vontade era ficar ali mesmo.
- Eu vou só buscar as minhas coisas e acompanho-o a casa. – Disse ela logo desaparecendo no meio das pessoas.
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Eve e Joana entravam agora no elevador. Aquele cubículo abafado com uma iluminação fraca. Uma das paredes estava coberta com um espelho. Joana exaltou-se quando viu a sua imagem reflectida nele. Respirou fundo conformada com o facto de nem sequer reconhecer a sua figura.
O cheiro a perfume feminino misturado com o odor de animais domésticos fazia-lhe náuseas e sentia a cabeça a andar à roda, como se não bastasse tudo aquilo com que se tinha deparado naquele dia. Ou com quase nada. Infelizmente.
Evelyn reparou na sua expressão de rosto mas nada disse. Carregou no botão e ambas subiram em silêncio até ao 9º andar. Eve empurrou a porta pesada e deu passagem a Joana.
- Para cima. – Indicou ela.
Subiram algumas escadas até a uma porta. Eve tocou à campainha.
- Não moras sozinha? – Pergunta Joana de imediato.
Sem dar tempo a Eve responder, alguém do outro lado abriu a porta devagarinho. Uma rapariga de cabelos ruivos escorridos espreita pela abertura. Fica parada a olhar estranhamente para Eve e Joana, especialmente para Joana, obviamente. A rapariga começou a sentir-se incomodada quando Eve falou:
- Vais deixar-me entrar na minha própria casa, ou não?
- Não me disseste que trazias visitas. – Disse ela parada no mesmo sítio. A sua voz era estridente e muito infantil. Fazia lembrar um cântico de uma criança de 5 anos. – Entrem, entrem!
- Obrigada. Moça, esta é a Bevin. – Disse Eve a Joana. – Vive comigo há mais de dois anos. Não neste apartamento, claro, mudámo-nos para cá há pouco tempo…
- Olá. – Disse Joana sorrindo.
- Olá! – Saudou a rapariga. Aparentava ter uns 15 anos no mínimo, mas Joana sabia que isso era impossível. Vestia uma túnica branca de mangas compridas quase até aos pés que lhe fazia lembrar um vestido de noiva. Mesmo que meio fantasmagórico. Os cabelos densos e luminosos caíam-lhe pelo corpo abaixo fazendo o rosto dela ficar ainda mais pequeno e angelical. – O meu nome é Bevin! Significa “senhora da melodia doce”, inspirado numa deusa celta.
Enquanto Bevin contava as origens do seu nome com orgulho e inspiração Eve fez uma careta a Joana que a fez conter o riso.
- Espantoso! – Disse Joana com entusiasmo enquanto olhava para Evelyn que continuava a fazer-lhe sinais.
- Eu acredito na reencarnarão e que isso tenha alguma coisa a ver com o meu passado distante, sabes? A origem do meu nome e… - Bevin virou-se para trás pressentindo Evelyn apanhando-a em flagrante. Lançou-lhe um olhar fulminante carregado de raiva, como se um anjo virasse diabo de um momento para o outro. Depois apanhou um caixote do chão e desapareceu por uma porta dos fundos.
- Desculpa isto… ela é muito temperamental! – Diz Evelyn revirando os olhos e abanando a cabeça de impaciência.
Joana encolheu os ombros. Olhou um pouco ao que a rodeava. A casa era bastante simples. As paredes eram um cinzento quase branco. No hall, por trás de porta de entrada encontrava-se um móvel sobrecarregado de velas de cheiro, chaves e panfletos espalhados. Mesmo por cima estava um espelho por onde Joana voltou a espreitar de relance. No outro lado seguia-se um corredor corrido por uma carpete gasta. O chão era de linóleo escuro e brilhante. Ao fundo havia uma porta entreaberta que Joana pensou ser a casa de banho. À sua direita havia outra entrada de onde saía uma certa claridade, era a cozinha. De resto não havia muito mais do que aquilo. Os quartos, eram três, e estavam alinhados em portas fechadas.
- Bem, penso que podemos ver os quartos depois, não é? Não vai ser preciso agora… ficas o tempo que quiseres, ou quando te sentires confiante e assim, piras-te… faz como quiseres! A casa a partir de agora passa a ser tua também, usa-a quando precisares! – Disse Eve enquanto ambas entravam na sala de estar, que era na outra ponta do corredor.
- Mas… afinal, eu estou cá temporariamente ou… não? – Pergunta Joana hesitante.
Eve encosta-se à ombreira da porta e olhou pensativa para o chão. – Eu já te disse, nós as duas vivemos cá sozinhas… tu também não tens lugar para onde ir e ainda temos aquele mistério da amnésia para descobrir! – Pensou durante algum tempo enquanto Joana se familiarizava com o espaço. - Se quiseres ficar por uns tempos não me importo… A Bevin também não… ela gosta de companhia às vezes! Mas tens que ter um certo cuidado com ela…
Joana olhou para Evelyn. Estava demasiado calma para o que acabara de dizer. Realmente não percebeu bem onde queria chegar, mas rapidamente se esqueceu disso.
Evelyn, sabia lá Joana porquê, disponibilizou-se demasiado rápido a ajuda-la. Mesmo assim, ainda se sentia estranhamente sozinha e esquecida no tempo. Era um pensamento muito perturbador, mas sentia-se melhor na companhia daquelas duas mulheres. Não imaginava sequer como teria sido se Eve não estivesse ali naquele momento… Ou nada teria sido por acaso?
Sem pensar mais nisso, Joana lá conheceu o seu quarto. Evelyn levou-a até lá. Realmente, Joana estranhou o facto de o espaço estar demasiado cheio e vivo para a receber daquela maneira. Parece que já havia sido usado recentemente.
- Este vai ser o meu quarto?
- Sim, podes ficar aqui.
- É um quarto de hóspedes, ou assim?
- É o meu quarto. Agora é teu.
Joana não queria acreditar. Evelyn achou-a na rua como uma mendiga, levou-a para sua casa, deixou-a ficar lá e disponibilizou o seu quarto, a sua cama, as suas coisas! O que era aquilo? Em que planeta aterrou, afinal?
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- É aqui.
Já fazia noite. Elsa encolheu-se no banco olhando para onde os máximos do automóvel conseguiam iluminar. Depois olhou para o seu acompanhante.
- Você vive aqui?
- Parece que sim…
Voltaram-se novamente.
- Obrigada, pela boleia. – Disse ele. Em silêncio, desaperta o seu cinto de segurança e abre a porta.
- Se amanha estiver disponível podíamo-nos encontrar. – Diz Elsa antes de o homem ir-se. Depois olhou novamente para a velha casa e parou para respirar.
Ele continuou imóvel, debruçado do lado de fora.
– Para conversar sobre a Joana e enfim, outras coisas que sejam necessárias. – Falou ela.
Ele assentiu e não se mexeu.
– Às três pode ser? Aqui? – Ele tornou a assentir. - Gostaria de saber o seu nome… para o poder tratar de alguma forma… - Diz Elsa numa troca de olhares.
- Então, amanha às três. Cá esperarei. Adeus.
Elsa esperou até o velho entrar em casa. Depois dessa pausa muda, fez marcha atrás e retomou a sua viajem até ao seu apartamento matutando sobre tudo aquilo que acontecera naquele dia.
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Bevin não voltou a sair do seu quarto até ao meio-dia, quando resolveu arrastar-se até à cozinha para beber chá e atazanar o juízo de Eve, que a tentava ignorar. Depois voltou a rastejar para o seu cubículo. Enquanto Evelyn espreitava alguma coisa dentro do forno Joana sentou-se numa cadeira e mordiscou um pão continuando sempre a fazer perguntas obtendo sempre uma resposta descontraída e no mesmo tom.
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Carla engoliu o comprimido com três goles de água seguidos. Depois voltou para o seu quarto.
- Importas-te que eu fique aqui? – Pergunta Sofia quando Carla entra. Tinha os cabelos soltos e meticulosamente escovados. Encostada na cama com a almofada no colo, sob a luz débil do abajur, Sofia seguiu a mãe com o olhar.
- Claro.
Carla retirou a sua almofada do guarda-fatos e colocou-a num canto da sua cama ao mesmo tempo que se deitava sobre ela, sem se cobrir.
- Conta-me, o que se passa nessa tua cabecinha desta vez? – Perguntou Carla num fio de voz calorosa e fraca.
- Ah, não é nada. Vim apenas fazer-te companhia… - Responde a rapariga ajeitando a travesseira também e deitando-se ao lado de sua mãe, sobre a colcha desfeita, sem se cobrir.
- Está bem.
Carla fecha os olhos lentamente mesmo que o sono teimasse a não vir.
- Mãe, só nos resta esperar, não é? Só podemos esperar. – Pergunta Sofia desperta.
- Sim, apenas esperar. – Responde a outra calmamente.
Sofia também fechou os olhos à medida que se ia acalmando gradualmente. Carla continuou a dispersar o sono. O vento fazia os cortinados ondularem levemente deixando entrar no quarto uma brisa muito subtil embalando as duas. Quando se apercebeu que o comprimido nunca faria efeito, caminhou até à janela aberta e olhou para a noite seca e privada que havia lá fora. Estava lua cheia.

domingo, 26 de agosto de 2007

Capítulo 9

Capítulo 9 - Kingdoms rise, and kingdoms fall, but you go on...and on...

- Tu moras aqui? – Pergunta Joana.
Eve assentiu. – Não gostas? São a primeira construção em altura da Irlanda! Tem elevadores e tudo! – Falou Eve rindo-se do seu próprio sarcasmo barato.
- A primeira?
- Sim, parece que depois de toda a Europa concluir que viver por cima dos vizinhos não era uma boa ideia, a Irlanda resolveu fazê-lo. E aqui está! – Evelyn apontou para uns enormes prédios que surgiam à sua frente. Meia dúzia de torres, ou um pouco mais até, espalhavam-se por um recinto plano sem árvores ou espaços verdes. Joana achou tudo muito abatido e sem cor.
Ambas subiram o resto da rua e seguiram por uma estrada mais estreita. Por entre muros altos cobertos de musgo as pedras da calçada guiavam-se muito desorganizadas pelas curvas íngremes.
- Então, conta lá miúda, quem és?
Evelyn pontapeou uma pedra. Esta bateu na parede e voltou para junto dos pés de Joana.
- Diz-me tu. – Joana voltou a chutar o pedregulho com mais força.
- Quem é que queres que eu te diga quem tu és?
- Tu é que sabes! Tu é que me encontraste! – Respondeu Joana rispidamente.
Eve parou e olhou para Joana com ar de riso. A expressão dela não era nada animadora. Evelyn soltou uma gargalhada e continuou.
- Do que te ris? – Joana já não gostava da conversa. Estava irritada. Ficou parada no mesmo sítio enquanto Eve pontapeava mais pedras.
- Tens piada. – Responde Eve entre risos.
- Tenho? Engraçado… não estou a achar piada nenhuma! – Respingou ela passando-lhe à frente e continuando a caminhada sozinha.
- Ei, para onde vais? Tens sítio para onde ir? Sabes o caminho? – Eve correu logo a seguir.
Joana sentiu uma vaga de medo a instalar-se nela. Sabia que não tinha sítio para onde ir... Pensou o quão terrível isso lhe parecia. Fechou os olhos com dificuldade porque sabia que num ápice se encheriam de lágrimas. Esforçou-se para se lembrar de alguma coisa.
- Vá lá, não precisas de ficar assim. – Diz Eve limpando uma lágrima que deslizava pela cara. – Vamos para minha casa. Lá podes pensar com mais calma.
- Como é que é possível? Eu não me lembro de nada! – Joana soluçava e ao mesmo tempo limpava as lágrimas com ambas as mãos.
- Também não sei, mas agora estamos metidas nisto juntas! – Disse Eve tentando acalmar Joana. Mostrou um sorriso e passou o braço pelas suas costas.
Seguiram caminho juntas enquanto Evelyn conversava sobre o sítio onde morava e algumas das desgraças que aconteciam em sua casa. Joana distraiu-se por fim, e pôde aproveitar um pouco da sua nova paragem em Dublin.

***

- É ela! – Exclama Sofia debruçando o olhar para além do vidro alto da porta. – É ela!
- É. – Consentiu o velho sentindo um nó no estômago. Engoliu em seco. É mesmo ela. E não tinha indícios de melhoras… pelo menos continuava a dormir.
- O que é que ela tem? – Pergunta Sofia desequilibrando-se do alto das suas pontas dos pés. – O senhor sabe o que aconteceu? – Pergunta ela de seguida recompondo-se.
- Não sei o que lhe deu. Estava com ela quando simplesmente desmaiou à minha frente!
- À sua frente? Então de onde conhecia a minha irmã? – Sofia olha novamente de relance para dentro do quarto, como se certificasse que ela ainda estava lá.
- De lado nenhum, mas se eu te disser tudo, estrago a surpresa que ela tinha para ti! – Disse o homem olhando para o mesmo sítio que Sofia.
A rapariga encarou-o. Tinha um sorriso miudinho estampado nos lábios. Não estava a sorrir de felicidade mas Sofia percebeu que havia algo por trás de tudo aquilo. Os dois pequenos olhos azuis e luminosos voltaram-se para ela de novo.
– Não percebo… - Diz Sofia confusa.
Eram só os dois que se encontravam naquele corredor, e mais uma mão cheia de portas fechadas. Estava tudo quieto. Qualquer som seria abafado pelo barulho dos carros circulando na auto-estrada fora das paredes do hospital, mas até isso lhes parecia muito distante. Agora os dias de Verão tinham uma morte vagarosa. A luz enérgica daquele dia passado custou a ir-se embora, mas o sol já não batia tão intensamente nas vidraças.
O velho deu meia volta ao sentir algo a pesar-lhe no ombro esquerdo. Sofia fez o mesmo.
Elsa estava agora entre os dois. Espreitou igualmente pela janela e esboçou um sorriso conformado e triste na sua expressão. Sofia e o homem não estavam minimamente preocupados com o facto de terem sido apanhados, desta forma já poderiam ter acesso a alguma informação com a médica do lado deles. E ela sabia também como prosseguir.
- Sofia, a tua mãe já saiu e está lá em baixo à tua espera, ela vai precisar de conversar contigo, pode ser? – Disse Elsa levando-os dali para fora. Passou amavelmente a sua mão pelos cabelos castanhos de Sofia. Essa era uma das poucas diferenças físicas entre ela e Joana.
Sofia era uma rapariga destemida. Nada lhe metia medo nem havia obstáculos de género nenhum. Se há muita gente que diz que não gosta de conversa fiada ela é a que leva isso mais a sério. A curiosidade e a energia sempre foram as suas melhores armas. O dom da palavra também sempre a acompanhou e Joana era um bocado o oposto de tudo isso. Ela não se guiava pela intuição, mas sim pela lógica das coisas. Sempre fracassou mais que Sofia nos assuntos a que toca a sentimentos e pensamentos que viajam na nossa mente sem serem convidados. Tudo isso para ela era uma tortura no qual para Sofia era puro divertimento. Não ter respostas para questões não era de todo o que Joana mais gostava. Contudo, ambas eram inseparáveis. O facto de não se compreenderem ajudava a resolverem os problemas alheios, unidas. Mas tenho a dizer que nem sempre dava certo.
- Ela vai contar-me tudo? Já sabe o que tem a Joana, não sabe? – Pergunta Sofia.
- Sim. Precisas de ir ter com ela agora… vais ter de ser forte, está bem? A tua mãe vai precisar muito de ti a partir de agora! – Disse Elsa quase faltando-lhe a voz. Tentou não assustar demasiado a moça, mas o que disse pareceu-lhe ter saído do sítio mais obscuro de si própria. O pior que a profissão lhe podia dar era isso mesmo. Nem sempre é fácil lidar com as desgraças alheias, muito menos numa situação em que a vida de alguém está nas nossas mãos. Embora o caso de Joana não lhe estivesse entregue agora sentia-se responsável por aquela família. E mais uma vez pareceu-lhe estar na função errada.
- Doutora, eu peço-lhe por favor que me diga tudo o que tem a dizer, aqui e agora! – Implorou Sofia colocando-se mesmo diante da médica. Esta ficou estupefacta com a sua resistência. Nada disso era esperado. – Sei que a minha mãe nunca me vai dizer tudo! A Joana corre perigo de vida? O que aconteceu? – Pergunta ela com uma voz estridente.
Os seus olhos brilhavam com fervor. Elsa olhou-os para além do verde. Não era revolta nenhuma, Sofia apenas queria saber a verdade. Isso não a surpreendeu. Deu um passo atrás e pousou a sua mão no ombro dela.
- Eu vou contar-te o que sei, está bem? Nós também não temos a certeza de nada… ainda é cedo de mais para haver um diagnóstico completo. – Elsa começa. Os três retomam viagem para o piso inferior. – Mas suspeitamos que seja um AVC. É muito raro com a idade que ela tem, mas o facto de ela ter tido uma recaída repentina pode ter também sido uma baixa de tensão e isso pode ter causado distúrbios a nível cerebral.
Sofia olhava para Elsa como se tentasse captar algo importante, e era isso de facto. Ficou muito quieta ouvindo a médica a falar do que sabia, e depositou toda a confiança no que por si só era uma tragédia.
- Isso quer dizer que o mais certo é a Joana ficar com lesões, quando acordar, e…
- Não, calma, é provável sim, mas ela neste momento tanto pode acordar como se nada fosse como ficar com mazelas graves… Mas temos que pensar que tudo vai dar certo, ok? O tempo o dirá! Nâo te preocupes com isso, está bem? – Falou a médica olhando para Sofia tentando sossegá-la.
- O tempo neste caso é vulnerável, vocês sabem disso, é tudo uma questão de tempo! Uma questão de segundos e tudo se pode perder, não é assim? - Sofia falava rápido num olhar distante como se tudo estivesse ensaiado.
- Sofia, as coisas estão a decorrer normalmente, o que te leva a pensar que devemos reforçar os esforços? - Perguntou Elsa a sorrir.
- Porque a minha irmã está lá dentro há horas e eu ainda não consegui perceber o que raio se passa com ela! Porque é que ninguém faz nada? Estivemos lá à pouco e ela simplesmente estava sozinha, você viu isso e não fez nada também! Porque é que ainda ninguém percebeu o que ela tem de mal? Pensei que num hospital o ritmo fosse diferente, sabe, tudo se descobrisse num ápice e se partisse para uma fase seguinte! Não é assim que está a acontecer… eu apenas quero saber porquê…
Elsa envolveu o seu braço à volta dos ombros de Sofia ficando bem próxima dela.
- Fazemos assim, logo que eu saiba alguma coisa eu contacto-te e falamos acerca disso, ok? Compreendo perfeitamente as tuas dúvidas, mas eu agora tenho de te deixar com a tua mãe. Tu também precisas dela, ou não?
- Claro… - Falou Sofia pouco convencida. “Mas porque é que nunca ninguém me diz nada?” Pensou ela.
Os três regressaram ao caos sem dizer mais nenhuma palavra, mas todos ainda tinham muitas dúvidas a pairar na cabeça. Duvidas… isso é normal… mas não quando algo não está devidamente explicado e claro.
Carla torcia um lenço de papel nas mãos enquanto pensava no que dizer a Sofia. Meu deus, como isto a apanhou de surpresa! Quando as coisas corriam sobre rodas tinha de vir isto para descarrilar a sua vida…
Sofia apareceu ao fundo das escadas e olhou para a mãe temendo o que viria a seguir. Deu dois passos trémulos incentivados por Elsa que aguardava junto do velho.
Carla avançou correndo para os braços da sua filha mais nova. Abraçou-a tão forte que os problemas pareciam ter sido expelidos suavemente deixando-as como se fossem as únicas pessoas no mundo. Mas a realidade voltou a recair quando Carla viu os olhos de Sofia e se lembrou de Joana. Tinha de aguentar tudo, era a única saída possível!

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Parabéns!

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Não podia deixar passar este dia sem felicitar o nosso adorado guitarrista! É verdade, completa 46 anos hoje! Façam berreiro, gente, porque ele merece!
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Edge nasceu a 8 de Agosto de 1961 na orla oriental de Londres. Filho de pais galeses que se mudaram para a Inglaterra recém casados, pretendendo formar família lá. The Edge era apenas um pequeno rapaz chamado Dave Evans quando ele e a sua família passaram para o outro lado do mar Irlândes e aí estiveram o resto da sua vida. Edge era um rapaz muito inteligente e bonito até à altura em que a sua cabeça e dentes começaram a crescer de uma maneira desconforme. A sua cabeça ganhou uma forma bastante peculiar e os dentes, apenas os dois da frente, faziam lembrar um pequeno castor. Não se assustem! Ele era adorável! Mas a sua aparência mudou muito e, a sua forma de ser também. Chegou então o dia em que Dave conheceu os seus amigos com quem formou uma banda aos 15 anos de idade. Ele era um adolescente tímido e um pouco estranho que adorava as novas tecnologias e passava o tempo com o seu irmão Richard (o Dick) no barrcão do jardim a fazer experiências com explosivos! Era um apaixonado por guitarras e havia construído uma, com a ajuda do seu irmão mais velho. Não havia dúvidas que iria ser o guitarrista dos U2, mais tarde nomeado com esse nome.
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Bom, tenho a dizer que muita coisa mudou desde que ele e os seus amigos se lançaram por completo no mundo da música. The Edge, uma alcunha mais tarde adoptada, sabia que o seu lugar seria ali e era onde ele se sentia realmente bem.
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O Edge é...
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- O cientista da banda!
- O homem do som e dos lindos solos.
- O melhor guitarrista do mundo, não só pelos seus conhecimentos no mundo na música mas sim na sua maneira de tocar tão criativa e única!
- Aquele que perdeu o cabelo ao longo das décadas mas é um homem extremamente charmoso e fofo!
- Aquele capaz de nos proporcionar dos melhores momentos que uma pessoa pode passar a ouvir musica!
- Aquele fashion que usa All Star.
- Aquele que consegue reunir um enorme e espantoso grupo de fãs!
- O santo homem que aturou as manias do Bono, incluindo o facto de já lhe ter passado pela cabeça que era melhor guitarrista que o Edge! -.-
- Aquele que tem uma voz maravilhosa! (e umas mãos também!!)
- O homem que nunca deixou de acreditar nas suas capacidades quanto guitarrista e enfim... é isto que se vê!
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Parabéns e mais anos de boa música, se faz favor!

terça-feira, 31 de julho de 2007

Capítulo 8

Capítulo 8 – Never in company. Never alone

Elsa Queirós saiu do consultório por volta das quatro e meia. Tinha o resto do dia livre mas decidiu ficar mais um pouco numa tentativa de amenizar as coisas. Percorreu os corredores agitados do departamento das urgências em direcção à pequena sala onde deixou aquele estranho homem sozinho. Sentia-se ansiosa e não sabia o que fazer com ele. Estivera sozinha com Carla apenas alguns minutos, mas foi o suficiente para perceber o seu estado de nervosismo e ignorância no meio de toda aquela história. Não sobrou tempo para lhe falar do sujeito desconhecido que se encontrava com a filha desaparecida, mas tencionava apresentá-los. Elsa sabia que era um caso delicado, por isso fez questão de controlar tudo à sua maneira. Por uns breves momentos pensou estar no local errado a exercer a profissão errada… talvez se saísse melhor num tribunal qualquer a decidir à toa o futuro dos outros. Juíza? Que anedota! Mas sim, o espírito de liderança era um dos seus fortes. Agora tinha de pensar em alguma coisa rapidamente!
Agarrou firmemente a maçaneta e rodou-a. Ficou imediatamente desapontada quando viu a sala vazia. Sentiu-se uma idiota por ter pensado que ele esperaria ali por ela. Passou a mão pela cara e riu-se. Já devia ter percebido que não seria nada fácil.

***
O velho segurou com força o papel em suas mãos enquanto percorria os corredores do 3º piso. Caminhava sem saber para onde se dirigia. As únicas coisas que lhe restavam eram um punhado de má sorte e a ficha de identificação de Joana. Pensou que o facto de a ter roubado dos arquivos do hospital seria mais um motivo para problemas, e se calhar se estivesse ficado quietinho à espera de ordens não o colocaria numa situação pior da que já estava. Mas o que estava a fazer? Percorrer os caminhos do hospital à procura de uma paciente não era das coisas mais sensatas que podia fazer por ele… e por ela. A sua presença com certeza não iria mudar nada. Além de estar a ir contra as regras. Mas se isso o pudesse levar até Joana simplesmente, já compensava por tudo. Já nada poderia piorar a sua situação nesta história infeliz, por isso foi em frente.

***
Sofia devorou o último pedaço do seu oitavo Kit Kat daquela tarde. Era isso que fazia quando estava nervosa, comia chocolates! Também não tinha ideia da quantidade de cafés e garrafas de água que bebera. As moedas já se tinham esgotado, só lhe restava agora conter-se e esperar mais uns minutos por notícias. Carla encontrava-se a falar com o médico responsável por Joana, por isso estavam dentro no consultório há uma eternidade… Só desejava sair a correr procurar a irmã e assegurar-se de que estava bem. Enquanto amarfanhava impacientemente o plástico olhava em volta e esperava alguma resposta. Tinha consciência que naquele momento tão precoce ninguém a tinha. E tudo isso não era apenas por causa de Joana. A imagem daquele sujeito também não lhe saía da cabeça. Como era possível fazer-lhe lembrar tanto uma pessoa? E ele teria alguma coisa a ver com o caso de Joana? Sofia abriu um aglomerado de questões na sua cabeça que só um pequeno passeio poderia aliviar toda a tensão. Levanta-se e atira o plástico para dentro de um caixote do lixo junto às escadas. Parou e olhou em redor. As pessoas estavam demasiado atarantadas para repararem nela… O balcão da recepção estava vazio. Voltou a dar uma olhada para o cimo das escadas. Pensou que se fosse dar uma espreitadela lá em cima não faria mal nenhum… Passou por trás de uma planta que estava ao lado dos degraus e num arranco subiu-os a correr.

***
- Para onde vamos?
- Para onde vais tu?
- Não tenho nenhum destino em especial, e tu?
- Eu não sei onde estou…
Eve voltou a olhá-la com o seu olhar fogoso. Ergueu o sobrolho e apontou para o seu casaco que balançava para trás e para a frente nos ombros de Joana.
- Sabes uma coisa, isso está a fazer-me muita falta neste momento, vê se o vestes imediatamente senão arrependo-me de tudo o que fiz por ti esta manhã!
Joana obedeceu.
Ambas caminharam lado a lado durante pelo menos dez minutos sem trocarem nenhuma palavra. O Sol tentava dar sinais de vida por entre as nuvens cinzentas e ameaçadoras mas estas pareciam mais determinadas a manter o dia fechado. Joana seguia Eve pelos sítios onde passavam tentando lembrar-se de algo, mas não conseguia familiarizar-se com nada de Dublin. O nome não lhe dizia nada e nem a própria língua lhe inspirava confiança. Em alguns cantos já se avistavam pessoas e o comércio da zona despertava para um novo dia de trabalho. Joana não sabia o que pensar acerca de tudo aquilo, porque também parecia a primeira vez que raciocinava na vida. Sentia que algo de importante lhe falhava…
Ouviu Evelyn a cantarolar algo enquanto caminhava uns passos à sua frente. O seu corpo era esguio e devia ser pelo menos uns 15 centímetros mais alta que Joana. Os caracóis loiros oscilavam de um lado para o outro ao ritmo das passadas largas. Joana quase como por instinto passou a mão pelo seu cabelo. Era liso, completamente liso e caía-lhe pelos ombros descendo até meio das costas. Era igualmente loiro mas com leves madeixas mais escuras e não tão reluzente como o de Eve.
As pessoas atiravam alguns olhares indiscretos às duas raparigas que percorriam agilmente pelo meio de um jovem dia, ainda um pouco retardado. Joana não sentia isso. Ela é que estava retardada no meio de tudo aquilo. Eve parecia não se incomodar com nada e agia como se não estivesse acompanhada. Joana perguntou-se se Evelyn sabia que ela a seguia ou se estava verdadeiramente ciente de si. Olhou em frente e encontrou a resposta. Ela é que não sabia nada de nada!
***
Os rapazes entraram silenciosamente no armazém encoberto e adormecido, exactamente como o tinham deixado na noite passada. Adam entrou depois de todos os outros e fechou o portão. Pendurou as chaves num chaveiro de latão e seguiu-os até ao ponto de referência daquele local. A decoração do sítio era escassa e pouco sintonizada. Havia um velho e corroído sofá acompanhado por uma poltrona de couro e uma mesa desdobrável de plástico no centro, onde todos se reuniam à sua volta. Naquela época recreativa também não podia faltar um gira-discos, muito gasto mas aproveitável. Pouco mais existia ali além disso. Junto ao sofá encontravam-se duas guitarras eléctricas e uma baixo, alguns amplificadores caseiros e um kit de bateria havia sido empurrado para o canto do espaço, e ali jazia ele sumptuoso, brilhante – mudo. Aquela era a pouca área “viva” do antigo armazém de têxteis de Dublin. Pouca luz conseguia ultrapassar os vidros espessos e sujos dos respiradouros situados no alto das suas cabeças. E a pálida manhã só entrava, ainda dificilmente, pela placa transparente que cobria o edifício abandonado. Bom, não tão transparente como se pensa do lado de fora.
Paul pousou os sacos das compras e procurou algo dentro deles. Contornou a mesa e sentou-se na berma do cadeirão, abrindo uma lata de refrigerante.
- Porque é que insistes trazer o teu pequeno-almoço contigo em vez de o tomares em casa? – Pergunta Dave pegando na sua guitarra habitual.
Paul não respondeu. Levou a lata à boca e sentiu o sabor adocicado daquela bebida levemente gasificada.
Larry arrastou a bateria para o meio de modo a que todos se pudessem colocar nos seus lugares à frente dela. Adam deu uma mãozinha de ajuda e de seguida ligou o seu baixo ao amplificador.
- Porque tenho demasiada pressa ao sair de casa. – Disse Paul por fim.
- Depois temos de esperar por ti… vai dar ao mesmo! – Larry procurou as suas baquetas pelo meio de uma autêntica bola de fios eléctricos.
Dave dava uns retoques necessários na afinação da sua guitarra. Sabia que cinco minutos mais tarde precisaria de repetir o processo novamente, mas quanto a isso não se podia fazer nada. Larry andava às voltas com as suas baquetas que se estavam a fazer de tímidas desta vez e Adam tentava entender-se com o amplificador, mas por vezes era difícil acertar contas com um aparelho tão primitivo como aquele. Mas todos amanhavam-se com o que tinham, tal como Paul amanhava-se com a sua primeira refeição do dia.
- Salta daí, senhor conde! – Exclamou Adam batendo nas costas do amigo. – Estamos à tua espera, Bono Vox!
Paul olhou para cima e vislumbrou a cara sorridente de Adam.
- Pessoal, não encontro as minhas baquetas!
***
- Bom, estás satisfeita agora, Ivone?
- Não.
António e Ivone abandonavam agora o edifício e regressavam a sua casa. António ainda se encontrava incomodado com o que acabara de fazer. Mas pior que isso seria mesmo contrariar Ivone.
As ruas do Porto estavam um pouco agitadas. O trânsito completamente parado nos sítios mais problemáticos no que toca a movimento. Era esse o ambiente natural da cidade. Comércio, trânsito e pessoas, muitas pessoas.
- Já viste tudo o que tinhas para ver! Não há nada de suspeito na casa. – António tentava parar a paranóia da sua esposa.
- Sabes que há. Estiveste lá como eu e viste o que eu vi. Sabes muito bem que aquela casa é tudo mesmo normal.
- E o que tens a ver com isso? O que vais fazer?
- Não vou fazer mais que a minha obrigação… sabes como eu sou!
***
O chão do corredor era branco e lustroso e estava completamente livre para Sofia poder avançar sem medo. Era fim de tarde mas o sol ainda iluminava tudo claramente pelas extensas vidraças viradas para a auto-estrada. O hospital era inteiramente um caos num edifício só, pensava Sofia até ao momento em que entrou naquele patamar. Estava deserto e meticulosamente arrumado e desinfectado. Podia-se sentir o cheiro a limpeza. Achou no mínimo estranho não haver nada nem ninguém por aqueles sítios. As portas apresentavam todas um pequeno vidro no alto no qual se podia espreitar para o seu interior. Sofia fazia questão de o fazer. Em cada espaço atrás das portas havia pouca coisa para ver. Tudo era limpo e igualmente arrumado. E nada mais além de uma cama e alguns aparelhos electrónicos que se ligavam directamente aos doentes. Sofia apercebeu-se da terrível situação e quase chorava só de pensar em Joana. Decerto que não estaria no sítio certo. Estava prestes a dar meia volta e ir embora quando pressente algo a trás de si. É o barulho de uma porta! Sem pensar duas vezes corre até ao fim do corredor e vira à sua esquerda antes que alguém a descobrisse. Rezou para que quem quer que fosse não a visse ali. Fechou os olhos com força e encostou-se o mais que pôde à parede. Cravou as unhas na carne das palmas das mãos e esperou. Tudo ficou silencioso como dantes. Abriu novamente os olhos.
- Olá!
O coração da rapariga quase saiu disparado do seu peito. Sofia deu um pulo quando viu um homem a sorrir-lhe com todos os dentes da sua boca. Foi o que vira à um tempo atrás no consultório da doutora Elsa. Sorriu envergonhada e nervosa e colocou as mãos atrás das costas como se escondesse algo.
- Olá! – Respondeu ela no mesmo tom de voz. Nunca ficara tão embaraçada na presença de alguém. Talvez fosse do susto que apanhara. Sorria, mas tremia por todos os lados, como se estivesse na presença de alguém superior.
- Tudo bem? – perguntou ele. – O que fazes aqui?
- Sim… - Não! A outra pergunta, estúpida! - Quer dizer… eu acho que estou… perdida e… hum…
- Andas à procura da tua irmã?
- Ya! – Hei! Pára com os trimeliques, miúda! Ele sabe de tudo! – Mas como é que…
O senhor de cabelos grisalhos ri-se baixinho. – Calma. Eu já te conto tudo. Queres encontrar a Joana ou não?
- Sim… é claro que quero! – Falou ela estava pouco convencida. – O senhor sabe onde ela está?
- Tenho o mapa! – Responde ele com ar glorioso mostrando o papel diante do olhar de Sofia.
- Como é que…
- Shhh… - O homem encostou o dedo aos lábios. – Fala baixo… - sussurrou ele sorrindo levemente. – Não queres que nos descubram, pois não? Já te disse que te conto tudo depois. - Estendeu-lhe a mão. – Anda.

sábado, 7 de julho de 2007

Capítulo 7 - Segunda Parte

Capítulo 7 – Won’t you come back tomorrow?
Segunda e Última Parte

- Isto vale uma pipa de massa! – Exclamou Ivone vagueando pelo pequeno estúdio.
- Ainda estou para perceber qual é a tua intenção.
- Olha-me só para este mostrengo... – diz Ivone sorridente pressionando nas teclas do piano.
O som agudo do instrumento ecoou por toda a sala e espalhou-se pelo corredor da entrada. António fechou a porta atrás de si.
- Quem é que é capaz de viver no meio desta balbúrdia? – Pergunta ele incrédulo caminhando pelo meio dos quadros.
- Isso vim eu cá saber! – Responde Ivone sentada diante da secretária completamente coberta de papéis e alguns envelopes fechados.
Decide pegar num. Devidamente fechado. Ao princípio mal conseguiu ler o que lá estava escrito e depois compreendeu porquê. Estava escrito em Inglês. Um Inglês correcto escrito numa caligrafia um pouco rabiscada de mais. Aliás, toda a papelada em cima da escrevaninha estava escrita à mão e em estrangeiro.
- O que é? – Pergunta António aparecendo por detrás de Ivone.
- Cartas, montes de cartas! Sem fim, olha só! – Ivone remexe no meio da desordem e pega num monte de envelopes fechados. – Estão todas por ler!
- Ou todas por enviar.
- Consegues decifrar? – Pergunta ela fazendo baloiçar o envelope diante dos olhos de António. – Está em Inglês.
- Querida, eu mal percebo a nossa língua, que fará a língua dos outros! – responde ele atirando a carta de novo para o monte.
- O que é isso? – Pergunta Ivone apontando para uma pequena caixinha que António segurava nas mãos.
- Ah... acho que é uma harmónica. – Responde ele abrindo-a.
O pequeno objecto metálico brilhava dentro da caixinha avermelhada, como uma pérola na sua concha. Era sem dúvida uma harmónica. Parecia novinha em folha. António voltou a fechá-la e pousou-a cuidadosamente em cima do piano.
Voltou-se para trás e não viu Ivone em parte alguma da sala. Deu mais meia volta e reparou numa porta entreaberta e avançou.
- Olha o que eu encontrei. – Diz ela.
Estava sentada na berma de uma cama num quarto bastante espaçoso. Havia uma manta repuxada para um fundo da cama e Ivone despejara a gaveta da mesinha de cabeceira para cima da colcha.
- Só sabes desarrumar!
- Olha.
Ivone entregou a António uma fotografia.
- Achas que é ele?
António olhou para o jovem da foto. – Parece-me que sim...
- Caramba, cada vez acho que o conheço de algum lado! Não sei... faz lembrar alguém!
- Olha, há aqui outra. – Diz ele pegando numa pequena figura a cores um pouco desbotadas. – Deve ser ele com o seu grupo de amigos, não te parece?

***
Larry caminhava ligeiramente à frente do grupo. Ia cabisbaixo e não tinha falado nada desde o pequeno percalço de à pouco. E não era só ele. Paul estava completamente a leste do assunto de conversa de Adam e Dave.
A manhã estava mais fresca que o normal. Havia começado o Outono à pouco e as aulas regressaram também na Mount Temple para a maioria dos jovens de Dublin. Mas não era por isso que os The Hype deixavam de tocar. Muito pelo contrário, a sua agenda estava mais sobrecarregada que nunca. Desde a última actuação que não deixaram de “chover” convites por parte de discotecas e bares da zona. Tinham bem a consciência que a sua fama era cada vez maior e o seu nome bastante divulgado pela cidade. Para quatro rapazes que cresceram nas entranhas de Dublin esse facto era electrizante e quase paralisante, mas muito animador saber estabeleciam um contacto muito forte com o seu público de cada vez que actuavam. Aliás, não eram apenas quatro... havia o Dick. O irmão de Dave que comparecera ao seu lado desde o primeiro dia. Bem, nem sempre estava presente, digamos antes assim. Apesar de ser o único no grupo que já não frequentava a escola tinha muito pouco tempo para a banda dado que a maior parte das vezes eram só os restantes quatro que faziam o trabalho de ensaio. Dick só se limitava a aparecer nas actuações com a sua guitarra e tocar juntamente com os outros. Por isso, toda aquela vivência de grupo e de trabalho de equipa era vivida com Paul, Larry, Adam e Dave. Larry chegou a perguntar-se muitas vezes se Dick fazia parte dos The Hype ou não, ou se era apenas um acompanhante e ajudante de audiências. Na verdade, a banda nem necessitava de outro guitarrista, Dave saía-se bastante bem.
O grupo subia a O’Connel Street um pouco calado, o que não era habitual. Normalmente era uma valente confusão quando se juntavam todos. Tinham sempre motivo de conversa e chacota e já para não falar nos assuntos dos The Hype que tinham em conjunto. Naquela manhã fria e húmida sentia-se uma atmosfera um pouco tensa no ar que os manteve um pouco distantes durante a curta viagem até ao cimo da avenida.
Paul apertou o casaco até cima e encolheu os ombros tiritando de frio quando acompanhou os amigos a atravessarem a rua. Aquela era a velha cidade de Dublin que ele bem conhecia. Juntou as mãos em forma de concha e respirou uma lufada de ar quente fazendo uma nuvem de fumo branco escapar-se-lhe por entre os dedos. Olhou para as árvores estáticas e despidas plantadas no meio da estrada e perguntou-se como iria estar a sua voz para o ensaio depois daquele momento tão resfriante. Uma porcaria, como já estava habituado!
Não muito longe dali, Joana aceitava o casaco da sua nova amiga passando-o pelos ombros. Ficava-lhe um pouco largo mas não fez caso.
- Onde estamos? – Pergunta ela levantando-se apoiada em Eve.
- Acordaste em plena O’Connel Street na manhã mais fria do ano com apenas um vestidinho de Verão no corpo! Eu tinha logo morrido de hipotermia! – Exclama Eve acendendo um cigarro por entre as mãos. – Detesto o frio. É por isso que moro na Irlanda, entendes?
- Não.
Evelyn MacBrennan queimou literalmente metade do cigarro com uma só passa. Olhou para Joana com desprezo por detrás dos olhos vermelhos e inchados. Libertou todo o fumo dos pulmões devagar que formou uma nuvem cinzenta sobre as duas cabeças.
- Como te chamas? – Perguntou Eve olhando para os pés quanto caminhava.
Joana não respondeu logo. Estava a tentar habituar-se à ideia que estava num lugar desconhecido. Podia ser uma questão de segundos, mas não. Não se lembrava de todo como se chamava.
- Não sei. Não me lembro...
Evelyn soltou um gritinho perverso fazendo os olhos brilharem de excitação. – A noite deve ter sido mesmo muito louca para nem sequer te lembrares do teu próprio nome!
- O quê?
Joana olhou incrédula para Eve que se ria descontroladamente.

Fim do Capítulo 7